Escolhas
Escrevo 13 de janeiro em um ato falho de quem se permite começar o ano de novo. E de novo. E de novo. Quantas vezes achar necessário recomeçar. Sabendo que meus passos andarilhos talvez nunca cheguem ao porto de partida. Não seria o de chegada? Outro ato falho de que minha vida líquida se faz de voltas ao ponto de origem? É isso que o amanhecer deste dia mais gelado de junho me faz querer ver? Que mais importante que a colheita, é a semeadura? Que a vida se faz de jornadas infinitas e infindas de procuras e achados?
Bom dia novo dia, então. Descubro que a inspiração vem de manhãs carregadas de um sol nascente, que faz aquarelas em nuvens acobreadas, lançando raios quase transparentes. Apenas entre vistos por quem tem tempo e olhos de ver. Para quem não sai apressado para lutar pela sobrevivência que a vida é resiliência e construção. E escolhas. Diárias. Infinitas. Infindas.
Busco o copo d'água com os olhos. Sei que está vazio e tenho que repor o líquido que me compõem em sua maioria. Sua falta me faz mais seca. Nem sempre sinto a sua falta. Beber água é hábito mais que necessidade para mim. Urbana que sou e aprendi a beber outros líquidos, nem tão saudáveis. Desaprendi alguns. Hábitos também são escolhas.
Dia de Santo Antônio. Que seria de mim sem a fé em Antônio canta a Bethania em alguma gaveta da minha mente. Aquela que guarda a eletrola, viola, decibéis e notas musicais. Aquela que grita ausências, amores e vivências através das músicas. A minha história gerada em notas e sons.
Morro e renasço a cada dia. Uma noite é meu velório de almas e aguardos. Cada amanhecer é saudado como um novo ano, uma nova chance, um novo momento. Os sonhos de agora mais nítidos mostram coragens novas. Ou antigas renascidas. Uma estranha conhecida melancolia permeia de leve minha alma mas a afasto com a decisão dos que já amadureceram para não adubá-las desnecessariamente.
O que procuro hoje? Seguir passo a passo. Desviar dos buracos e armadilhas. Ter olhos de ver e sentir. Ter sensibilidade para sons, cheiros e palavras. Não passar em vão na vida de ninguém. Interagir de verdade e semear atos de carinho e afeto. Nem que seja para homenagear o Santo Antônio pequeninho, que se vestiu e se calçou, sete léguas de vida andou e seguiu na canção que minha mãe entoava. Ela mesma uma guerreira sobrevivente de uma linhagem de mulheres que me geraram e me legaram suas vidas, sonhos e lutas. Com bom humor e leveza, algumas. Com rebeldia, outras (não muitas, é verdade). Com melancolia. Com garra. Com determinação. Com suas armas e forças seguiram suas rotas e deixaram sementes. Sigo então como elas, com suas vidas esquecidas. Com seus caminhos anônimos. Com suas histórias grandiosas feitas de atos cotidianos. Somos universo.
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