Quem cuida do cuidador?

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Acordei com uma saudade doída do meu pai. Daquelas saudades que cravam na carne, fazem a gente chorar, mesmo sem lágrimas. Algumas vezes com. 

Me dei conta que foram muitas recordações nos dias pós Dia da Criança. E das coisas que sinto mais falta da infância é de ser cuidada. Não só eu, imagino. Acho que todos nós sentimos uma pontinha de carência dos tempos em que alguém cuidava de nós. Nossa alimentação, nossas feridas, nosso choro tinha colo. Mesmo quando não tinha e a gente guardava fundo no peito, já antecipando a adulteza que viria, ainda assim não nos era cobrado maturidade.

A medida que crescemos, viramos cuidadores. De alguém, de coisas, de nós em última instância.

Nossos pais viram filhos. Nossos filhos, sobrinhos, netos, toda essa nova geração que vem vindo exigem atenção. O mundo lá fora exige atenção. A vida urge atenção. E nós?

Vez por outra dá uma saudade doída do tempo em que a gente era atendido.

Acho que por isso lembrei meu pai. Ele cuidava. Estava sempre pronto para fazer e fazer. Nas horas de maior aperto, tento me espelhar nele. Mas quem cuidava dele? Nas suas horas de dúvidas, de carências, de solidão? Minha mãe, talvez. E isso também explicava o amor absurdo que ele sentia por ela. Lembro inúmeras vezes ela o confortando em momentos de dúvidas. Dizendo o quanto era capaz e inteligente. Do médico a chamando para falar da doença incurável da sogra, mãe de meu pai, porque ela podia suportar ouvir e lidar com isso. Ele não. 

Vi meu pai frágil já na velhice. Vi seus olhos me pedindo desculpas por já não saber as respostas, tão fáceis em outras épocas. O ouvi me chamando de mãe. Mas com tudo isso, ele ainda cuidava de mim. Era tão solar que muitas vezes entrava quebrada no hospital para vê-lo e saia de lá melhor porque a energia dele vibrava na minha como impulso de vida. 

É desse cuidado que sinto falta. É esse cuidado que busco feito garimpeira dentro de mim. É essa semente de se cuidar quando não há tábua de salvação e dá folego para se manter na superfície mais um pouco. E mais um pouco. E mais....

Mas hoje, só o que queria era que alguém me olhasse e me desse um pouco de colo protetor só para me sentir um pouco criança de novo.   

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