Frutas maduras dão sucos
Como
revelar a ele sua recente fantasia? Riu sozinha no banheiro ao
imaginar as risadas dos dois à revelação de que o ela queria era
ficar horas debaixo de um chuveiro, recebendo a água nas costas,
deixando que rolasse quente e selvagem, massageando cada pedaço de
suas costelas. Sem hora para acabar. Ela e ele naqueles chuveiros
conjuntos que, se com outros tinha vergonha, com ele era
completamente natural ficar nua. Até de corpo.
De
alma tinha sempre ficado. Desde o primeiro olhar, décadas atras.
Foram tantos momentos de paixão que o tempo foi ficando um detalhe.
Continuavam com a mágica de continuar parecendo a primeira vez.
Tinham
passado por tantas coisas. Alegrias desbragadas. Orgasmos grandiosos.
Risadas homéricas. O humor os unia desde sempre.
Riam deles, da vida, deixavam de transar se a piada compensasse. Sempre valia a pena. Até porque as risadas viraram olho no olho e o corpo respondia com prazer.
Riam deles, da vida, deixavam de transar se a piada compensasse. Sempre valia a pena. Até porque as risadas viraram olho no olho e o corpo respondia com prazer.
Já
maduros continuavam sentindo aquela fome. Hoje mais gourmet. Menos
quantidade. Muito mais qualidade.
Já
tinham se contado todas as fantasias possíveis. Nada dessas coisas
prosaicas de usar disfarces ou fetiches. Para eles era o encontro de
verdade o que despertava o tesão. Nessas horas corria solto o
amor. Era como se cada um quisesse dar ao outro mais e mais. Era
uma generosidade tesuda que, se fosse contada, seria motivo de
risadas dos amigos. História tua, isso não existe, diriam muitos.
Outros só sorririam cúmplices e lembrariam de seus próprios
amores.
Mas
não, quando se ama de verdade, não cabem mais pessoas, nem nas
conversas sobre.
E
agora essa vontade de tomar aquele banho sem pressa. Depois uma sopa
de cebola que inverno que chega pede caloria de boa monta. Um vinho
tinto português, uma música ou um filme gostoso. E dormir.
Dormir
juntos, sem hora de acordar.
Sorriu
de novo ao pensar que essa fantasia era das coisas mais difíceis de
acontecer. Já tinham passado da idade de morar juntos. Cada um tinha
sua vida e reservavam seus momentos de sonho justamente para namorar.
Quem
os olhasse na rua, veria duas pessoas naquela fase que chamam de
melhor idade, eufemismo para velhos. Cabelos brancos, corpos que já
não tinham a rigidez dos anos da mocidade. Pareciam um casal normal,
desses avós que saem para buscar os netinhos na escola. A não ser
pelo brilho no olhar. Aquele brilho safado de quem se sabe gostoso
para aquele a quem deseja.
O
desejo, esse moleque brincalhão, que não vê idade nem decência,
continuava a brincar com eles, neles, por eles.
A
vida podia ruir em volta. O PIB cair. A economia desandar. Os
direitos serem negados pouco a pouco. Mas o desejo, esse era deles,
esse ninguém tascava não.
Haviam
de dar suco enquanto lhes restasse ar para respirar.
Testando
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