Sigam-me!

quando foi que esqueci de dizer que nada mais importava? Talvez quando teu chamado silenciou. Nem nas redes sociais tu me seguia.

Tudo bem que não poderia ser chamada de digital influencer, mas tinha alguns números bons nas redes. Nada super expressivo, mas um público fiel me curtia. Lia minhas postagens, compartilhava minhas bobagens. Menos tu.

Tu que mais me importava. Tu que era como o sol que me brilhava por dentro. Tu que me fazia ver sentido nas coisas sem.

quando te vi pela vez primeira devia ter desconfiado. Aquele sorriso maroto. O ar de menino sério. A voz bonita. Tudo foi entrando sorrateiro, feito borbulha de espumante que quebra na areia. Feito espuma do mar que arrebenta com a rolha. Feito ar que molda os sentidos. Feito pedacinho de gente que foi, morreu e se espalhou e quando encontra outras partes faltantes e completantes, se enche de uma certeza das coisas sempre vividas. 

Uma confiança que não se explica. Uma ausência que se parte. Uma complementaridade que assusta.

E com tudo isso de explicação exotérica, esotérica, mesotérica e etérica, tu não me segue. Nem nas redes.

Na vida podia. Mas não.

Fosse de mel meu feitiço, talvez minhas teias te tivessem laçado. Feito gado no campo. 

Fosse de fel minhas queixas, talvez minhas dores te tivessem prendido. Feito santo na igreja.

Mas não. Tive essa mal intenção de dar linha. Deixar ser. Não prender.

Só meu canto te chamava. Mas tal qual Ulisses, usavas de laços alheios para te fingir preso. E continuavas não me seguindo.

Contei fatos, cantei fados. Me vesti de miragens e até micagens fiz de modos a chamar a atenção. E nada.

Meus eram teus olhos. O brilho mais safado. 

Minhas tuas mãos. As mais ligeiras. 

Nossos os gemidos, os suores, os ardores.

A cumplicidade. Que essa é bicha escorregadia, se assoma da gente, não tem estratégia que administre suas entradas. E partidas.

E eu também não te seguia. Só nos sonhos. Só nos chamados. Só na saudade.

Aos outros dava acolhida. Dava risada e atenção. A voz pública que te negava. 

Aos outros, dos outros, recolhia pedacinhos de vida. De ti, a redenção. 

Nós, de liquidezes, nada tínhamos. Nos sabíamos partícipes de um teatro mambembe chamado Vida. Dela, seu palco e suas rudezas, tirávamos de letra, custasse o que custasse. às vezes nossa saúde, outras nosso alento. A mais das vezes, nosso paraíso. 

Aos outros, os que nos seguem, nosso sacrifício. Nós, os que morremos por eles, por Deuses, por valores, por amores, nossa morte. Gozosa.    

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