Manifesto pela Ética do Cuidado Intergeracional
“Encontrar o possível dentro do impossível”
Sonho Manifesto – Sidarta Ribeiro
Leio um novo manifesto utopista, como já li tantos outros em minha vida. Vibro igualmente com eles, relembrando que não estamos sós em sonhar tempos de união e generosidade.
Sempre entendi o ato de amar (que é uma bússola como define o mesmo livro) extremamente revolucionário. Tanto que as pessoas que advogam sua implantação entre os seres, acabam mortas de forma violenta.
O ódio não tolera o amor porque este lhe é superior, já dizia a música Língua em outro sentido
"E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?"
O Cuidado Como Atitude Revolucionária
"O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado.
Cuidar é mais que um ato; é uma atitude.
Portanto, abrange mais que um momento de atenção.
Representa uma atitude de ocupação, preocupação,
de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro."
Leonardo Boff
Nossa sociedade ocidental tem relegado às mulheres o trabalho do cuidado. Em geral são elas que cuidam de filhos, maridos, pais e quem mais necessitar. Aos homens é (ou era) ensinado desde pequenos que brincar de bonecas é coisa de menina, que chorar e se mostrar fraco ou sensível é coisa de menina, que ser empático e cuidadoso é coisa de menina.
Urge mudar estes conceitos ultrapassados, já que a nossa civilização só se tornou o que é porque cuidamos. Urge colocar a ética do cuidado em debate. O cuidado não é uma atividade privada, é um propulsor de vida.
Pensamos viver muito. E bem. E descuidamos o cuidado. E vejam bem, cuidar é estar presente. É escuta ativa. É respeito à autonomia. É ouvir. É respeitar o outro. O meio ambiente. É ter uma ética de amor e generosidade (de verdade e não de teoria) com a sociedade e todos os seres.
A Responsabilidade Intergeracional
"A principal tarefa de cada geração é a formação da próxima"
Sidarta Ribeiro
Vivo numa bolha onde os pais não são pessoas perfeitas (ninguém é), mas procuram dar o melhor de si para a criação mais importante de suas vidas: seus filhos. E não apenas no aspecto financeiro, mas no verdadeiro compartilhamento na educação e na construção de memórias que estruturam futuros pais, mães e gente bacana que saiba ser generosa com a vida. E os demais.
Que então se debata, se eduque desde cedo, se ensine contracepção para que os filhos e filhas venham por escolha consciente. E com gente madura e preparada para este papel.
Resgatando Nossa Ancestralidade do Cuidado
"Agora que a escassez acabou, esta ética da competição não faz mais sentido. Precisamos resgatar a nossa ancestralidade matriarcal: a ética do cuidado, da colaboração, da cooperação, da responsabilidade, competência e confiança, desenvolvidas há milênios e que mantém a coesão de grupos sociais de cultura muito rica, como é o caso dos Yanomami"
Sidarta Ribeiro - O Chamado
Dona Maria e seu João esperam pacientemente por uma visita, por uma chamada de longa distância, por uma atenção. E não importa se ainda moram nas suas casas, se têm vida ativa ou se já estão em alguma ILPI da vida. O envelhecer vem acompanhado hoje da pressa dos mais jovens, da ausência por migrarem para longe, pela impaciência de estar ao lado de quem lhes lembra que, um dia, também vão envelhecer. O cuidado, que tempos atrás, era relegado às mulheres da família, especialmente as que e/ou não tinham e não tinham filhos. “Ainda bem que tive/teve filha mulher” era o que muito se ouvia entre as mais velhas. Era um acerto tácito de que os filhos homens se ocupavam de suas vidas. E as noras, de suas próprias famílias. Não se vivia tanto, mas talvez se convivesse mais.
Hoje, nestes tempos mais líquidos e caóticos, o cuidado em geral é terceirizado por quem tem condições de arcar com isso. Pagamos para que cuidem de nossos filhos. Pagamos para que cuidem de nossos idosos. Somos uma sociedade pragmática, que vive em academias pagando exercícios, pagando mentores que nos ensinam a viver melhor, e não temos tempo a perder. Ouvir a mesma história de nossos pais/avós de novo? Nem pensar! Largar o celular para escutar com atenção? Definitivamente estamos perdendo essa habilidade. E se a gente pirar, as IAs estão aí para serem nossas confidentes.
Mas o que talvez estejamos esquecendo é que a ética do cuidado é a nossa responsabilidade como espécie para preservar nossas crianças e velhos em uma vida digna e com escuta atenta e afetiva. É o que nos distingue da barbárie.
Este é um manifesto para que reconheçamos o cuidado como ato político, como força transformadora, como ponte entre gerações. Que formemos a próxima geração não apenas para sobreviver, mas para florescer em amor, generosidade e responsabilidade mútua. Para que retomemos o rumo de sermos considerados humanos.
O cuidado intergeracional não é apenas nosso direito.
É nossa revolução de hoje e agora.
Essa ajuda é parecida com " códigos ou charadas".Difícil!
ResponderExcluirDesculpe, não entendi.
ExcluirÓtima mensagem, que destaca o pluralismo, a democracia de uma sociedade utópica.
ResponderExcluirSempre em busca da utopia possível!
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