O colinho

 

Imagem gerada no Leonardo AI


Tem aqueles dias em que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente, ou foi o mundo inteiro que parou…ouço a música ressoando em mim, nem sabendo se lembro direito a letra ou ela se confunde com um sentimento de melancolia. 

Nesses dias de tudo cinza em que nem a mais vibrante mentalidade otimista consegue vislumbrar um traço de energia, é bom se lembrar de coisas que nos fazem bem. Nos dêem amparo, uma sensação de colo. Quando fazia biodança, há muitos anos atrás, se chamava dar continente este afago de afeto que traz o outro e acolhe em seus braços. Sem nem me dar conta, ou talvez dando, eu me fiz continente nestes dias cinzentos que passei faz pouco. Tinha um pote de feijão congelado no congelador. Feijão congelado dando continente e colo? Sim, porque do feijão, fiz uma sopa, do jeitinho que a mãe fazia quando eu era pequena.

Nos dias frios de inverno, na casa lá de cima do morro onde morávamos em Novo Hamburgo, naquela época em que eu era chata para comer (hoje seria seletiva), a mãe passava o feijão no liquidificador. Agora fiquei pensando, tinha liquidificador nos anos 60? E se tinha, nós tínhamos um? Não lembro de muitos eletrodomésticos na cozinha. Ela era grande, um pé direito enorme! Uma janela ao fundo onde ficava a pia. Do lado direito o fogão. O mesmo onde a panela de pressão explodiu, fazendo uma chuva de feijão até o teto. Um armário e a geladeira perto da entrada da cozinha. Lembro bem porque foi nela que o Fábio colocou o gato no congelador e a mãe tirou com uma caneca de água. No meio uma mesa. Ou era na casa da Tia Lia que tinha uma mesa cheia de guloseimas? Ou nas duas? Minha memória se perde um pouco nas lembranças. Mas o caldo de feijão…

Era esmagado, a mão ou na máquina, não importa. Ficava grossinho e gostoso. A mãe batia um ovo e ia colocando devagarinho enquanto o feijão esquentava. Ah! Como tinha gosto de amor aquela sopinha de feijão que me davam com tanto carinho em noites frias de inverno. Eu nunca refugava.

Foi uma releitura dela que fiz nessa noite quente de verão invernal dos últimos dias. A que me sentia cinzenta por dentro. Não sei se foi coincidência ou se foi a magia da memória, mas ela me ajudou a me sentir mais quientinha no coração. Foi como um colinho feito comida e carinho.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

amantes eternos (divagações com a IA)

O nunca mais

Bailarina bamba