Eu tive um Pai


Eu tive um pai. 
Seu nome era Paulo.
Para a menina que segurava a mão
era Paizinto
Eu tive um pai que deixava que eu fizesse tranças nos seus cabelos e lia gibis para mim.
Eu tive um pai que me levava para passear e comer picolé enquanto o Papai Noel mamãe colocava os presentes na árvore. Digo para vocês que aquele passeio é das mais lindas recordações de Natal que tenho.
Eu tive um pai que datilografava suas ideias, as que nunca tinha medo ou preguiça de lançar no seu trabalho, enquanto eu passava embaixo de sua mesa de trabalho.
Eu tive um pai que abriu mundos e curiosidades.
Eu tive um pai que era companheiro de comícios e carreatas.
Eu tive um pai que era visionário e antevia o que ia acontecer em tecnologia.
Eu tive um pai autodidata que me ensinou a pesquisar e não me contentar com respostas prontas.
Eu tive um pai que me ensinou a pensar criticamente.
Eu tive um pai que me ensinou a amar. 
Eu tive um pai que exercia a democracia na prática em nossa casa. Ao mesmo tempo nos ensinava a diferença entre clausulas pétreas e as que se podia questionar.
Eu tive um pai que me ensinou a debater com argumentos qualificados.
Eu tive um pai que me ensinou a ser diplomata.
Eu tive um pai que chorava comigo em comerciais de margarina.
Eu tive um pai que sempre lutou como um leão até o final. Venceu três septicemias. A quarta o levou.
Eu tive um pai que não foi perfeito, mas foi o melhor que pode. E como pode.
Eu tive um pai que me deu exemplos de vida, retidão, ética e busca em todos os momentos de sua vida.
Eu tive um pai que voava nos céus.
Eu tive um pai que remava nas águas.
Eu tive um pai que legou sonhos e desejos.
Eu tive um pai que lia vorazmente.
Eu tive um pai que tinha uma auto estima do tamanho de seu coração. 
Eu tive um pai que foi menino órfão de pai, tinha essa mágoa de não ter conhecido o seu. E se tornou um pai maravilhoso para nós, seus filhos. E para quem precisasse dele. 
Eu tive um pai que não se cansava.
Eu tive um pai que sempre via a vida pelo lado mais belo.
Eu tive um pai que sempre tinha uma história ou piada pronta para explicar a vida.
Eu tive um pai que fazia poesias para a melhor mãe do mundo que ele conquistara para nós.
Eu tive um pai que foi presente quando preciso e quando ausente, era tão presente ainda assim, que a gente relevava.
Eu tive um pai que nos chamava de "o meu pessoal".
Eu tive um pai formidável.
Não.
Eu tenho um pai com tudo isso porque enquanto escrevo isso e meus olhos ciscam, o sinto aqui, ao lado, dentro, ao redor.
Eu tenho um pai que me legou mais que a vida, me fez gente e me ensinou a ser resiliente.
E a manter o brilho no olhar.
Sempre. 


Véspera do dia dos pais em 2020 - ano pandêmico. Ouvindo Nat King Cole que ele gostava. Imaginando como ele viveria tudo isso. Acharia um projeto, iria querer ajudar quem precisa, iria cuidar dos seus, iria ler tudo o que existe sobre pandemias e iria nos fortalecer de alguma maneira. Sempre foi um sobrevivente com louvor! 

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