Segundas precisam de histórias de Pai

Ótimo! Acordar já é um privilégio. Acordar em uma cama tua, sob um teto teu, com possibilidade de comer e interagir com gente querida te faz uma pessoa que pertence à uma minoria bem específica da humanidade. 

Sei lá se existe uma pesquisa que comprove isso, mas deve. Tudo é passível de pesquisas hoje em dia. Até o cansaço das segundas feiras.

Afinal, quem não?


Segunda feira é aquele dia em que tudo começa: trabalho, dietas, rota para os objetivos. Tudo adiado para a segunda que tem esse poder mágico de despertar o lado mais laborioso das pessoas. Isso para quem descansa nos fins de semana. Outra camada privilegiada.

Como boa profissional liberal nunca tenho essa definição exata entre os dias da semana. Toda hora é hora de trabalho. Arquitetos entenderão.

Mas ainda consegui reservar as manhã de sábado para meu reabastecimento. Isto antes de virar mãe e pai de meus pais.

Eu, que não tive meus filhos, acabei tendo essa experiência mais tarde de cuidar de alguém. Com uma pequena diferença que cuidar de crianças cansa, mas reserva um futuro. Cuidar de quem te cuidou, aceitar as falhas de quem era super herói exige um descolamento emocional que drena energias. 



As segundas se tornam ansiosamente esperadas porque são o reencontro com a vida que faz algum sentido, que reserva esperanças, que não é apenas um caminho para a partida. 

Sei bem que o amor tudo explica e tudo resolve, mas mesmo quem cuida tem que reservar um tempo para se reerguer emocionalmente. Quem está exaurido não consegue ajudar. Nem amar.

Até amor se esgota. Até amor precisa de troca. Até amor pode intoxicar.

Nas segundas, onde a energia pulsante de vida nos pede que sigamos em frente, impulsionando as coisas práticas, é quando mais necessitamos estar inteiros. E não em frangalhos.

E é nessas horas em que a vontade de deitar e chorar, resmungando como se nada mais houvesse de bom na vida, que me lembro das histórias que meu pai contava.

Meu pai tinha uma para cada ocasião. Algumas eram piadas. Outras realmente tinham acontecido com ele. Uma em especial me remete aos momentos de auto comiseração:

Contava ele que estava saindo de férias. Mil bagagens e tralhas para colocar no pequeno Austin, seu primeiro carro, numa cidade pequena do interior do Rio Grande do Sul, onde ocupava seu primeiro cargo de gerente de banco. Jovem, na faixa dos 30 anos. Casado com a mulher que carregou seu coração, dois filhos (esta que vos fala ainda nem era projeto de vida). Iam sair de férias. Ele resmungando...quando passa o jardineiro. Seu "Mittelstad" (ou algo que o valha) carregando sua carroça imensa movida à tração humana. Ele tinha uns 12 filhos, trabalhava insanamente e tinha sempre um grande sorriso nos lábios parecendo viver na maior felicidade do mundo. Meu pai parou. Respirou fundo e falou consigo mesmo:
 que grande idiota eu sou. Tenho casa, emprego, carro. Estou saindo de férias...e reclamando. E este homem que não tem nada disso e passa por muito problemas de sobrevivência muito maiores que os meus, está aqui, com o maior sorriso, me dando esta baita lição de vida...

Nas segundas resmungonas é bom lembrar dessas histórias de pai. Elas servem para me afastar do próprio umbigo e sentir que ele continua me iluminando, mesmo em outra dimensão...

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