Saindo da letargia e voltando a viver
Eu e Stephen Hawking começamos a vida com algo em comum: a curiosidade e a paixão pela incógnita do universo.
Lembro que bem pequena já me perguntava se o universo era realmente infinito. E se fosse, esse nunca ter fim não me convencia. Mas se era finito, o que havia além dos seus limites.
Mas ao invés do cara inglês, minhas perguntas nunca passaram de mera curiosidade. Minha real vocação era ser útil ao próximo. Mas nem por isso pensem que virei uma missionária que fez relevantes serviços pela humanidade. Não. Meus caminho sempre foram mais prosaicos. E com certeza no dia que eu morrer poucas pessoas se lembrarão de mim após algumas semanas.
No bem da verdade a arrogância que alguns levam na vida não sobrevive a uma semana de doenças.
Estar acometido de algum mal ou acompanhar alguém querido lutando para viver é das maiores lições de humildade e vida que se pode ter.
Lembrem disso (e sinceramente espero que nunca tenham que vivenciar isso): a sala de espera de uma UTI é onde todos se tornam iguais, humanos impotentes em nossas esperanças e medos.
Por isso quando saio de um período de letargia, me acendo e volto ao comum mundo dos mortais, silenciosamente agradeço todo dia.
Sim. Eu tenho medo. Medo das pessoas. E tem muitas vezes que este medo me paralisa.
Não é questão de força de vontade. Se fosse, pouca gente sofreria. A gente sabe o caminho. Sabe que basta levantar e sair. Mas entre o saber racional e a decisão emocional parece que bate uma nuvem que tudo nubla. E a gente desmorona.
Uns desmoronam mais tragicamente, ensejam voos para o nada. Alguns se jogam para o nada. Alguns se perdem no nada.
Outros como eu, tentam aparentar uma normalidade que é conseguida com um gasto insano de energia vital. Levantar da cama é um desafio. Procrastinar é a solução de não sofrer. De não sentir.
Estou saindo de uns bons oito meses de letargia.
Nesses dias e noites escrevi como pedido de socorro enquanto namorava com a ideia de me jogar da primeira janela.
Li, elaborei. Me cuidei. Me abasteci. Mas sobrevivi mesmo porque era necessária para o bem dos demais. Isso me manteve lúcida. Continuei porque não podia desistir.
Um dia acordei eu. De novo.
Para quem nunca passou por isso parece ilógico. Mas é bem assim que funciona comigo. Tem dias que parece que alguém me deu corda e eu volto.
Volto sem medos. Volto normal. Volto menos escritora. Volto mais ação.
Quanto tempo vai durar? Não sei.
Talvez para sempre.
Espero.
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