De um olhar fez-se o encontro

Era um dia de inverno cheio de brumas. Tantas que o avião marcado às pressas demorou horas para levantar voo. Mal sabia que sua vida ia mudar em poucas horas. Por ora apenas se lamentava daquele tempo que lhe atrasava a vida.

Enquanto descia as escadas da escala nem podia imaginar que um olhar a seguia. Nem quando sentou na espera interminável do destino. Sua mente divagava entre a observação de uma turma de nipônicos que faziam mil mesuras e a urgente necessidade de fazer com que a sua bagagem enfim fosse para o mesmo lugar que ela.

Levantou suas pernas em meias brancas, sua saia e blusa branca. Ela toda branca não fora uma casaco cor de maravilha. Ela toda maravilhas. 

Um balcão. Um olhar que a acompanhava desde a escada se faz homem. Ela desatenta nem presta atenção. Não fora o atendente mais sutil, talvez o momento não se fizesse.

Uma poltrona ao lado da outra. Uma conversa como tantas outras. Um observar analítico como tantos outros. Seria nada se não fora uma frase acidental que deixara escapar para aquele homem em tudo interessante que estava ao seu lado por acidente.

Um olhar se fez. Por um instante que durou uma eternidade ele a despiu em público. Não apenas seu corpo, mas sua alma, sua calma, seu bom senso, sua fêmea.

E ela gostou.

E esse gostar era em tudo diferente de tantos olhares que recebera em sua vida. Ali fez-se o encanto.

Não, não pensou ter encontrado sua alma gêmea. Apenas se permitiu viver.

Sua alma partida de um amor dolorido precisava de um porto. Altamente perturbador mas ao mesmo tempo seguro. Alguém que a fazia percorrer abismos com mais certezas que percorrera rotas normais. Alguém perverso mas que tirava dela o seu melhor.

Não pensou e mergulhou. Não de cara. Não de vereda. Mergulhou com calma e foi indo, indo e quando viu estava nadando em um oceano de plenitudes efêmeras e eternas.

Onde ia dar? Não sabia. E nem importava.

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