Loucura é andar fora do bando
Ando pelas ruas procurando alguma versão que faça sentido nessa vida cada dia mais louca. Lembro a velha ladainha, tão cantada por minha mãe:" Pedro Pereira Pinto? Pronto, patrão. Pinta P na porta e no portão. Ando pelas ruas procurando um tal pintor pateta que pinta pê na porta e no portão. "
Nunca entendi a lógica do andar pelas ruas quando ela não começava com pê que era a lógica do início. Ainda era criança e no meu ingênuo coração acreditava que o mundo deveria ser uma imensa brincadeira de encaixar, onde o senso comum e a coerência fossem as chaves mestras de montagem.
Ledo engano.
Talvez a sabedoria de minha mãe já mostrasse que nem sempre a ordem é lógica e que nem sempre as regras são rígidas. Há encaixes que se moldam com outros conformes e cabe a nós buscar nosso mais perfeito. Ou o mais adequado. Ou o que conseguirmos alcançar. Que no fim das contas, a "vida é luta renhida, que aos fracos abate e que aos fortes...."
Espera aí, lei da selva? Sim. Também.
Dentre as várias facetas da vida se encontra primeiramente a : sobrevivência. E na busca dessa muito poucos conseguem exercer o poder de escolha. A grande maioria da espécie humana apenas sobrevive. Quando muito. E se dá por satisfeita em ter o que comer, beber e ter um teto para dormir.
Sonhos sim. Credo que todos temos. Fazer nossa versão da vida, mesmo que imperfeita, quero crer que esteja também ao alcance de muitos. Poucos se atrevem, acho, a escrever seu roteiro. Mais cômodo e sábio, por vezes, seguir a ordem que outros traçaram. Seguir o bando. Pertencer ao bando. Segurança. Respostas que estão pre determinadas. Não é preciso questionar. Nem correr riscos.
A não ser os internos. A não ser o dos sonhos. A não ser quando mesmo a ordem de fora pareça confusa.
Louca.
Louca.
Loucura é andar fora do bando. Loucura é crer solitário. Se o mundo aponta a versão atual é X, e você sente que é Y, ai de você se não encontra quem ainda creia que Y vale. A vida é suas versões.
Por isso a literatura nos salva. Seja em canções, seja em versos, seja em romances. O escritor é um louco que cria. Ele olha um fato. Corriqueiro que seja. E amplia. E mostra como se. E se. E se Pedro Pereira Pinto não fosse pintor? E se fosse poeta, policial, astronauta, ET? Se passasse por portas que pintava com seus sonhos e cruzasse portões para novas realidades? Se fosse não pateta, mas apenas desgarrado? Se sentisse que sua casa, seu lar, seu bando morasse dentro dele. Eternamente. Que das suas palavras brotasse, versões de novas histórias. Que a verdade pudesse ser ressignificada. Como o é. Mas que, ao invés de uma versão que agradasse outrens, criadores de histórias oficiais, houvesse a sua versão. Ou as suas versões.
Passo pela vida procurando a loucura de viver no meu vazio. Pintando de cores múltiplas um quadro de retalhos que faça sentido. E que seja um portal para me reunir enfim ao meu bando.
PS: Obrigada Rosa Montero
Fosse poeta o Pedro Pereira Pinto, provavelmente parafrazearia o Patativa, fosse polícia, penso que preferencialmente prenderia putas, pobres, pretos, e petistas...
ResponderExcluirMas é certo que se há um bando de loucos ao qual você pertence, basta olhar em volta, que estarei por lá também.
Queridos! Junto com vocês o mundo é mais bonito! Beijos
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLoucura , ser autêntico ?
ResponderExcluirNunca Mari Zete, embora o mundo tenda a apontar que sim. Loucura é não se crer inteiro e ter que se render ao bando. ;)
Excluir