carta a amores verdadeiros
Imersa na releitura de Tudo por Amor de bell hooks me deparo com um trecho de uma carta não enviada para um dos seus amores verdadeiros. Vários sinais piscaram no meu cérebro e coração: cartas não enviadas, conheço e muito. São várias em minha vida, principalmente em um tempo onde a comunicação de sentimentos se escondia sob toneladas de proteções, muitas baseadas em achismos e carências. Amores verdadeiros é outro termo que demorei para entender o real significado. Confundia os amores possíveis com os verdadeiros. Confundia vontades minhas com a reciprocidade. Confundia defesa interna com falta de amor externo.
Tantas confusões que marcaram minha vida e me fizeram também essa eu de agora.
O trecho da carta de bell hooks dizia:
Demorei para entender a sutil diferença de um afeto intenso/mesclado de desejo e expectativas com o sentimento de amar alguém em sua inteireza. Suas magnitudes e suas pequenezas. Suas inconsistências e suas amplitudes de alma e vida. O sentir não a ilusão de uma alma gêmea, mas um alguém com quem ser inteira do jeito que dá, do jeito que sou no momento. O amor que não ansioso, que não cobra (ou quase não) mas o que engrandece a alma e nos faz sentir leveza.
Um amor que não é apenas romântico ou da família que nos cerca. É um estar em si e com. Estar em si, plena e ainda assim querer compartilhar.
É verdade em amizades, em uma realização de afazeres que brotam da alma, é ajudar e é respeitar a natureza porque a reconhecemos como uma parte de nós.
Amores verdadeiros são bússolas e âncoras de vida. São combustível de horas todas, são bálsamo em momentos de incertezas.
Amores verdadeiros não morrem na estrada das ausências. Permanecem como semente adormecida. Florescem quando regados. Nos fazem ver a vida com mais coragem e belezas.
Não sei quantos amores verdadeiros bell hooks encontrou na vida. Eu encontrei dois. E me sinto extremamente privilegiada por isso. E se hoje, encaro a morte com menos temor de não ter vivido com verdade, devo também aos meus amores verdadeiros. Norte e centro de uma mulher que se descobre a cada dia mais inteira. E plena.
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