Entre o Silêncio e a Multidão

 

imagem gerada por Luzia

de quem é o olhar

que espreita por meus olhos?”

Fernando Pessoa – A múmia

O amor precisa para viver de emoção diz a música que escuto. Em tempos de vivência sozinha literal, preciso de sons que me liguem ao mundo para que não voe na imensidão das viagens internas.

Dizem por aí que a gente ronda o que mais teme. Nunca gostei do morar só. O abrir a porta e não ter ninguém com quem falar. O guardar as emoções ou angústias dentro de mim. Ou até os fatos que leio e vivencio. Temo que vá me tornar aquela velhinha que entope os ouvidos alheios quando acha um disposta a ouvir.

Temo várias coisas. A principal delas é desconhecer quem é este meu olhar da maturidade. Essa eu que encara certezas antigas como supérfluas, mas que ainda tem saudades daquela menina que gritava opiniões com a convicção dos temerários. Essa eu de hoje é muito mais calada embora mais falante. É menos convicta, embora externe mais palavras. Talvez isso seja a maturidade enfim. E não apenas os cabelos grisalhos e o rosto sem viços que me olham do espelho.

Essa eu das fotos é tão diferente da eu que olho internamente. Esse rosto das minhas tias parece tão longe da mulher que ainda cresce e necessita de colo. Algo em nós nunca envelhece: a necessidade de carinho e acolhimento. Talvez até se torne mais urgente.

Envelhecer tem etapas e atalhos. Nem sempre são caminhos belos, nem sempre fáceis. Parar não é solução nem escolha.

Escolhas.

Palavra importante nos processos do viver. Sou o resultado das minhas escolhas. As que pude fazer. As que a vida fez por mim. E eu aceite sem protestar. Ou protestando, tive que engolir porque não havia outra forma.

Escolhas e partidas. As partidas são doloridas como todo processo de despedidas. Talvez o fato de ter partido ou assistido tantas, tenha um medo redobrado das chegadas.

A vida é um processo feito entre nós e o mundo. Os passos são nossos. Os abraços são com os outros. Essa mistura delicada de trocas faz nosso sorriso ou nossas lágrimas no fim das contas.

E o Pessoa? Continua eterno poeta porque por mais que caminhemos, a poesia sempre nos guia. 

Ou deveria.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

amantes eternos (divagações com a IA)

Das podas necessárias

Dos meus pertences