O Jardim das Delícias Secretas

Sonhos. Eles nos dizem tanto. Comigo, pelo menos, eles são frequentemente repetitivos. Sonho com choupanas que escondem tesouros. E como boa arquiteta, abro portas aparentemente desgastadas e me deparo com palácios e casas elegantemente decoradas. Obviamente sei que deve ter a ver com o que vejo e pesquiso durante o dia. E mais obviamente ainda também sei que deve ter a ver com o valorizar mais minhas qualidades internas, partes que as vezes menosprezo, mas que podem esconder potenciais imensos.

Mas e quando o sonho te repete um mantra? Aquela noite em que uma frase é repetida. Mil vezes repisada. Parece que feita de propósito para que não se esqueça. Porque para mim, sonhos que encerraram mensagens são os que permanecem. Tenho sonhos que sonhei quando muito pequena, e ainda hoje enxergo com nitidez as imagens que formei (ou se formaram) em minha mente.

Essa noite sonhei com um conto. Tinha um título sugestivo: O Jardim das delícias secretas. Tive a certeza de que fazia parte de um livro de Jorge Luis Borges que tenho comigo e li muito tempo atrás. Do conto não lembrava nada. Mas o título ficou martelando na minha mente. Várias vezes repetido, parecendo viral da internet. Acordei. Voltei a dormir. E o jardim das delícias secretas ainda aparecia claramente em minha cabeça. 

Acordei e corri para o Google colocando o título sonhado com Borges. Nada.

Como assim? Tinha tanta certeza que minha primeira reação foi de brochura. Borges não tinha escrito nada com esse título. Levei algum tempo para voltar a procurar. Agora só com o título...Além dos jardins secretos daqui e dali, saltou um jardim das delicias terrenas. Um quadro. 

Um quadro de um holandês muito louco que pintava coisas surrealistas lá pelos anos 1500. Um tal de Bosch. Hieronymus BoschEl Bosco. Sim, eu tinha visto um documentário sobre ele. Sim, ele tinha me impressionado. Sim, eu vi um quadro seu no MASP em 2014. Sim, esse quadro me calou muito. Achei muito impressionante que alguém ousasse criar aquele tipo de imagem numa época que meu pré conceito imaginava mais careta. Mais tão sem imaginação desse tipo. 

O Jardim das delícias terrenas do Bosch é uma incógnita para mim. Senti que devia me debruçar mais sobre ele. Talvez seja o recado de meu inconsciente me dando a dica bem clara: se debruce sobre as incógnitas da vida. Abra a porta do seu jardim das delícias secretas. Ele deve revelar riquezas inimagináveis como as portas das casas em pedaços que abro e que revelam novos mundos a ser não apenas descobertos, mas vivenciados e compreendidos em toda a sua plenitude.  

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