Nome diferente. A dor e a delícia que é

 Nome da gente. Tão importante que as empresas estão usando como estratégia de marketing e de aproximação. Banco do Fulano, latinha do Beltrano. E todos encantados com a personalização, deixando de ser um zé ninguém da multidão para ser um Alguém especificado.

Todos? Não. Quem tem nome diferente não. Mas tem que ser diferente mesmo. Daqueles que as pessoas não sabem pronunciar. Que sempre te chama por algo vagamente semelhante. Tipo genérico, sabe. É quase isso. Mas não é. 
Chamada da escola. Nunca acertaram. Colegas, amigos, clientes. Cartas. Nunca um Elenara. Normal. Simples. Não. Eram os EleOnOra, Elionara, Lenara, EleMara. Parece brincadeira já que hoje, olhando friamente, nem acho meu nome assim tão diferente. Mas ele não me representava, sei lá. Era estranho. Tão estranho que nunca gostava que me chamassem pelo nome. E paradoxalmente nunca tive apelidos. E consequentemente nunca chamo as pessoas pelo nome. Pelo menos não quando falo com elas. Nunca chamei amores pelos seus nomes. Quando me me chamavam pelo meu, sentia um arrepio esquisito. Era como se fosse algo isolado, estivessem chamando outra pessoa. Era como se o meu nome não fizesse parte de minha alma. 
Crescimento e terapias me fizeram aceitar. E gostar. Aprendi a reconhecer a personalidade do meu nome. Me acostumei a ele. Hoje não consigo me ver com outro. Mas confesso que foi um processo meio longo. E ainda continuo não chamando ninguém pelo nome. Ainda sinto o arrepio quando me chamam por ele. Aceitação é diferente de se apaixonar. Que fique bem claro. 

Mas e como ele veio a mim? Não existiam heroínas de livros com esse nome. Não está na Bíblia. Não tinham parentes na família com esse nome. Tudo bem que minha mãe se chama Helena e minha avó Estelita. Mas mesmo assim não justificaria. Ah! Mas tem uma história e é bem bacana.

Quando minha mãe engravidou na vetusta idade de 32 anos, ela e meu pai já tinham uma vida e família estabelecidos. Eram quatro. Eles e meus dois irmãos. Eu fui pedida, implorada. Meu irmão chegou a ir no zoo falar com a cegonha (sim, ele ainda acreditava nela) para pedir um irmãozinho. Minha mãe se rendeu. Resultado: uma bebezinha loira e robusta, nascida em quarto na penumbra, com música e pai no quarto da maternidade. Gente, era 1957! Isso era revolucionário!

E agora? Que nome teria essa pimpolha? Pois foi escolhido de forma bem democrática. Em um sorteio familiar. Cada um colocou o seu escolhido em papéis e alguém sorteou (nunca perguntei quem....). Quem ganhou? Meu irmão, o do zoo. Tinha oito anos na época e achava linda uma menina da cidade de meu pai. Acho que só a via nas férias. Ou devia ser amiga dele, não sei. A Elenara original. Será que ela também passou pelas dores e delícias de ter um nome diferente? De onde será que veio o nome dela? Nunca cheguei a saber. Talvez nunca saiba. 

E o seu nome? Como foi escolhido? Ele tem a ver com você? Conta aqui prá gente. 


Esta postagem faz parte do projeto 52/52 que faz parte de um resgate da memória. Quer ver como é? AQUI

Comentários

  1. Oi, Elenara, o meu nome também foi dado pelo irmão, graças à cantora Eliseth Cardoso. Grafias à parte, o conflito gerado é sempre o mesmo: Elisete, Lizete, etc., sempre tendo que corrigir... Nós é que devíamos escolher o nome a partir de uma determinada fase da vida, um nome que fosse mais de acordo com a nossa identidade.

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    1. Seria uma pratica bem inteligente. Creio que exista algum povo indígena que faça isso. Eu só me acostumei a me chamar pelo meu nome, em voz alta, sem estranhar o som faz muito pouco tempo, Lisete.
      beijos

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