Sendo quem se é

 


Somos uma família bastante peculiar. A gente se escreve. Além das lives diárias que unem três irmãos morando em cidades e estados diferentes, temos nossos desafios literários. O que começou com uma história de tesouro, avançou por lembranças e uma quase terapia onde a gente se revela de uma maneira muito sincera e bonita.

Da live de sábado, saiu este texto que compartilho com vocês abaixo. E até por seguir o conselho da mana mais velha para que mais gente me conheça um pouco mais.    

Enfim um dia de quase sol, mesmo entre nuvens. Cafezinho a postos, musica boa de fundo e reflexões sempre necessárias, principalmente em uma manhã de sábado.

Então aí vamos nós.

Quando vim para este mundo, abri os olhos em uma família já formada. Eram um quarteto. Eles se ensinavam uns aos outros. Como meus pais ficaram órfãos cedo, creio que construíram seus próprios modelos de pai e mãe. Se acertaram ou erraram, é coisa até sem importância porque eram seres humanos. Creio que procuravam dar o seu melhor no mundo onde viviam.

Nasci com grandes olhos e não é a toa. O universo me deu estes meios de observação.

Observadora. Nasci assim. E como toda boa observadora, e curiosa, sou bastante tímida desde pequena. Ou calada. Ou muito na minha. O Luis Fernando Verissimo que o diga. Expoente máximo do poder dos quietos, sabia se expressar escrevendo.

Como toda pessoa quieta, o nosso mundo interno, personalidade e opinião, parecem nebulosos para as pessoas que julgam pelo que veem. E ouvem. Ah! Os sentidos humanos!!!

Nasci em uma família muito especial. Todos eram bonitos, altos e magros. E cheios de personalidade. E falantes.

Onde eu poderia me salientar? Em beleza não, que era bem bonitinha em pequena, mas logo virei aquela guria gordinha e baixinha. E quieta. 

Ah! Mas em inteligência poderia competir. Então que fosse. Era a quieta que lia. E como todo quieto que não fala alto, mas faz cara de quem entende, todos acreditam que somos mais inteligentes do que somos. Perfeita estratégia.

Mas…nem tudo é perfeito na vida. Logo aprendi que os falantes e sorridentes se dão melhor na vida. Os que agem. Os que se mostram ao mundo. Não os quietos.

Os pais se preocupavam. Era comparada à colegas e amigas mais falantes. Me sentia menos amada pelo que realmente era. Levei anos (e terapias) para não apenas me aceitar como era, mas para me amar como sou. Passei anos da vida escolar sem perguntar nada para não estragar a imagem de sapiência com que me defendia. Cuidava com esmero do cabelo que era minha parte do corpo mais elogiada. Podia não ser aquela guria popular, mas tinha na segunda, o cabelo que queriam ter nos sábados. Apresentações eram um tormento porque ficava tão imersa na minha necessidade de sair bem, que não relaxava e apenas deixava sair o que sabia. Ou o que não sabia.

Aprender a me amar como sou, deixar sair a necessidade de mostrar e provar algo para alguém e o mundo, ainda é um processo que estou aprendendo a viver. Já consigo relaxar e falar em público as coisas que sei e até as dúvidas que tenho. Já consigo falar o que sinto com mais facilidade. 

Paradoxalmente estou escrevendo menos. Talvez a escrita já não seja o meu principal meio de comunicação com o mundo. E a aprendizagem mais interessante é que o mundo, aquele mundo que a gente acha que se importa, não está nem aí para a nossa necessidade de provar algo. E até gostam mais da gente como somos.

Por isso acho que a principal lição que todos deveriam ter na vida é aprender a gostar da sua essência. O que nos torna realmente diferentes. E o que as pessoas, pelo menos as que importam, percebem sem que a gente precise demonstrar.

Então obrigada irmãos, por todas as conversas que temos e que fazem com que eu cresça cada vez mais. 

Amo vocês

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