Ausências
Toda vez que saia às ruas notava algo diferente. As pessoas conhecidas iam desaparecendo. Lentamente, é verdade. No início. À medida que o tempo passava, a velocidade dos sumiços foi aumentando. Primeiro foi a simpática mãe do verdureiro. D Inácia estava sempre no caixa, sorrindo para os clientes. Um dia se foi. Depois o chaveiro, seu Manoel, português da Chamusca, que vivia sorrindo e cantando as boas de sua terrinha. A gerente da farmácia que sempre lhe atendia. O garçom do restaurante. O vizinho do térreo. Ninguém mais falava neles. Ouviu falar aqui e ali de colegas de infância. Ficou difícil sair às ruas. Tinha medo das surpresas. Começou a ficar com medo. Trancou as portas. Não atendia mais os telefonemas no único telefone fixo que sobrara. Passou a não ir ao super. Comia e dormia mal. Dispensou a faxineira e não pegava mais sol nas caminhadas que tanto gostava. Um dia se deu conta que ela também tinha sumido. Ninguém tinha notado.
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