Adeus minha bichaninha

 

gata antes e depois


Nunca mais seu miado exigente. Seu rabo petulante em pé, exigindo atenção. Meu olhar fugidio teima em te enxergar nos meandros das sombras, como se fosses ressurgir da morte que acompanhei até o último suspiro. Não é fácil se despedir de uma companheira de quase 14 anos.

Quando tu chegou aqui era pura orelha, muito feia, curiosa e faminta. Não foi amor a primeira vista. Como todas as fêmeas, fomos nos descobrindo aos poucos. Ambas assustadas com o inusitado. Ambas prementes do permanente. Amantes do cotidiano. Fomos crescendo em vivências e carências até que nos descobrimos parceiras. Tu sargenta. Eu relutante. Tu cheia de personalidade. Eu cheia de senões. Tu gata que se descobria bela. Eu ainda sem me desnudar.

Embora soubesse que irias mais cedo que eu, ainda relutei aceitar que seria tão rápido. Não reconheci os sinais. Perdão. Não te dei a atenção que merecias nos momentos finais. Até nisso tu me ensinou.

Achei que não teria a coragem de estar contigo até o fim. Tive. Espero que entendas que foi puro amor.

Sim, te amei Bichaninha. Tive contigo uma convivência que tive com pouco seres humanos. Uma troca linda de cotidianos. Te espero nas manhãs para me acordar com teu miado exigente. Te enxergo nas sombras. Embora saiba que nunca mais.

Nunca mais é tempo demais. É coisa que assombra a gente. É avassalador sentimento de inquietude e impotência. Nunca mais teus pelos pela casa, pelas roupas, pela vida. Teu sinalzinho de coração no nariz que se tornava mais negro a medida que crescias.

O tempo de convivência entre humanos e gatos é mais curto que deveria. Embora sempre os amando nunca tive uma convivência tão longa como essa. Uma gata que me foi dada de presente e chegou já se adonando da casa. Uma destruidora do patrimônio como a chamava. Uma Lady bonita, peluda e carismática, como todo gato que se preze. Um serzinho pequeno que preenchia tanto os espaços que deixou um vazio imenso na casa. Que se foi rápido, meio que sem se despedir, meio que sem querer fazer sofrer. Mas já fazendo.

Minha Bichaninha, a vida vai ser menos bonita sem tu aqui ao lado. Mas também achei lindo que tu tenha vindo se despedir em sonho. Na noite que partiu, te vi ao meu lado, se aconchegando e fazendo ronrom, e mostrando uma gatinho novo que motivou tua brincadeira antes de sair voando pela janela em direção ai céu. Um dia talvez meu coração tenha lugar para novos amores felinos. Por enquanto preciso de um tempo para viver essa ausência que amor que parte não se repõe logo em seguida. Há que se ter parcimônia no tempo de luto e de entendimento.

A vida segue e a gente com ela. Administrado as perdas, o tempo e o amor. As lições ficam. A convivência permanece na lembrança para sempre.

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