Quando os robôs fazem versos
Todos já passamos pelos traumas das páginas em branco. A inspiração que falta, a motivação que some. O atropelo das informações e desassossegos da vida real que levam para longe a leveza de ser e expressar. Fazer o quê?
Entre pesquisas diárias, senti curiosidade para ver alguns exercícios de desbloqueio da criatividade para escrever. Existem vários, alguns aprendi em oficinas, outros escutei nos you tubes da vida. Mas hoje dois me chamaram a atenção: Um gerador de acrósticos e um de palavras aleatórias.
Acrósticos são aqueles poemas que, em geral, iniciam com as letras de alguma palavra ou nome que parece oculta, mas pode ser lida na vertical. Eram bem populares em certa época onde se faziam homenagens às crianças e jovens adolescentes. Pelo que percebi, o site tem algumas frases prontas que, reunidas, podem ou não fazer algum sentido.
E ameaça a tempestade,
liberdade é entendida necessidade,
e seu companheiro constante, a humildade,
não cresceu mais do que a eternidade.
A beleza é a outra forma de verdade,
representado a maior vontade,
a curiosidade é única vaidade.
Meio hermético, mas passível de entendimento...
Criação de frases rimadas que rimam com "ra"
Para a terra escondida,
não gelo, vento, agora
que nunca encontramos olhar,
fragmentos de ternura.
E um pássaro liberta,
para um amigo, qualquer um,
a primeira escuridão,
sem soltar uma palavra.
A criatura selvagem,
o grande mestre, inspira,
vindo da terra,
a roçar com seu corpo.
Surge o rosto vicioso,
digo pela lâmpada,
quem é bom agora, o
que tem que morrer, morra.
O gerador de palavras cria aleatoriamente uma ou mais palavras e o mote é se criar uma história sobre elas.
Margarida
Cabine
Passeio
Quando entrou na cabine do tubo de hiper velocidade que a levaria em 20 minutos ao destino que costumava tomar três horas de seu precioso tempo, Margarida não pensou que um simples passeio iria lhe custar muito mais caro que os R$ 100,00 da passagem.
Um bom começo, com certo suspense...posso descrever a tecnologia do tubo, a sensação de claustrofobia da cabine onde Margarida e mais 49 pessoas se espremem como sardinhas assustadas esperando que o suplicio de não verem a paisagem se assemelhe a um exame de tomo. Todas as possibilidades estão abertas quando os dedos iniciam a escrita. Apenas três palavras que se encaixam e geram rumos. Mas...e se a escolha fosse outra?
Chovia torrencialmente enquanto Margarida deixava a cabine acústica que seu chefe, Alfredo, providenciara para que seu trabalho rendesse. O barulho da funilaria era ensurdecedor. Não fossem as paredes forradas da sua sala, jamais poderia se deixar levar a passeios inimagináveis. Que seu chefe Alfredo jamais imaginasse. Sorria ao abrir o guarda chuva colorido que combinava com os sapatos mais pesados que usava em dias chuvosos. Mas não imaginava o que iria acontecer quando dobrasse a esquina...
Já notaram que meu clima é de suspense. Um ladrão? Um namorado furtivo, um encontrão com o seu clone que veio de um futuro distópico? Mil possibilidade que se abrem quando as escolhas mudam. É como na vida.
Margarida saiu a passeio e entrou distraída na cabine do trem. Em vez de Madrid, seguiu para Paris. Ainda bem porque ali iria decidir a sua vida.
Pode ser mais simples e direto. Sem mistérios, ou quase sem. Se os robôs podem fazer versos, nós ainda temos o poder de decidir nossos rumos. Alguns. Nem todos. Pensando bem, talvez quase que só os escritos...
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