É preciso que alguém se importe
Enquanto tu caminhas pelas ruas. Te pergunto:
E a entranha?
De ti mesma, de um poder que te foi dado
Alguma coisa mais clara se fez? Ou porque tudo se perdeu
É que procuras nas vitrines curvas, tu mesma,
Possuída de sonho, tu mesma infinita, maga,
Tua aventura de ser, tão esquecida?
Por que não tentas esse poço de dentro
O incomensurável, um passeio veemente pela vida?
Importa que estejamos atentos
-todos
Lobos famintos rodeiam a matilha
Ovelhas desgarradas correm sem meta
Pastores, cajados e luas guiam sem bastião
-Ventanias
Importa que pensemos em todos
em ninguém
em nada
em tudo
Todos na roda da divina indiferença
-acordando
Importa que mandemos vir
Forças, heroínas e poesia
Hordas de anjos lúcidos e loucos
Nossos corpos em júbilos
rodopiando verdades
Importa que pensemos no custo
Mais que ouro,
-vidas
Mortes em vão
Caídas e lívidas
Suplicantes de momentos
De êxtases e verdades
É preciso que alguém se importe
Para ir atrás de nós
Para resgatar a memória
Para rasgar a falsidade
Simulacros de rotas
Narrativas de uma história malsã
É preciso mergulhar nas entranhas
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