Meus mortos falam comigo

Não sou médium nem tenho o poder de Cole Sear, o menino do filme O Sexto Sentido. Mas meus mortos tem falado comigo.

Elenara Elegante

Mais que a saudade, os tenho sentido em mensagens prosaicas, aqueles sinais que o universo te assopra para que percebas algo que talvez já soubesses, mas que se encontra escondido na poeira dos dias corridos.

É um livro antigo, tantas vezes manuseado e jogado ao lado, que agora reaparece para minha leitura. E é como se meu pai estivesse ao meu lado, relembrando de forma doce, porém firme, ensinamentos de vida que ele transmitiu em exemplos. 

É uma palavra que leva à um blog antigo e palavras de quem já partiu, mas deixou eternizadas suas opiniões e uma resenha de livro. Livro que leva à um filme que, na ocasião onde comentei não fazia muito sentido, mas agora o faz.

São mensagens de parentes desconhecidos que me encontram pelas minhas pesquisas de antepassados e vão juntando pecinhas de uma intrigada teia de vidas e mortes que me antecederam.

São fotos que me chegam pelas lembranças de filhas que ficaram sem pais em meio à pandemia e que me lembram um dos maiores tesouros que esses queridos deixaram: o estar sempre presente com uma palavra de carinho em forma de telefonema, em forma de viagem para passar um aniversário, em forma de confiança de contar velhas histórias, mesmo as mais picantes.

É uma imagem engraçada de como uma amiga agiria em uma situação em que estivesse muito brava, como se ela me assoprasse rindo uma molecagem, dizendo com seu maravilhoso sotaque carioca: mereceu, Baby...Hellooooo

As lembranças de meus mortos se fundem às memórias de tempos de convivência e os sinto tão presentes que é como se estivéssemos apenas separados por uma vertigem.

"Um dia, uma garotinha perde sua mãe. 
São tempos de guerra e ela está na casa da avó. 
Ela pergunta: “Diga, vovó, o que é a morte?” 
Sua avó responde: 
“Pense em sua mãe e diga a você mesma que você não a reverá mais, nunca mais, nunca, nunca mais, até que essas palavras se esvaziem de sentido, que você sinta o vazio e a vertigem em você mesma, e então se dará conta de que não pode imaginar a morte e compreenderá um pouco o que ela é.” 
A garotinha pensou “nunca mais, nunca mais, nunca mais...”, as palavras se esvaziaram de sentido. 
Ela sentiu vertigem."

Radmila Zygouris 

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