Deus tem dia?

Dia internacional de Deus



Acabo de saber que em 14 de junho se comemora o Dia Universal de Deus. Juro que achei que, sendo Deus, todos os dias eram seus. Pelo menos se diz dele que foi o Criador de tudo isso daqui. 

Segundo o significado achado no Google Deus é "o ser que está acima de todas as coisas; o criador do universo; ser absoluto, incontestável e perfeito". Logo deveria também estar acima dessas convenções de dar nome aos tempo. Dias, minutos, anos, séculos, são convenções humanas para o girar do planeta ao redor do sol. Ou ao redor de si mesmo, como acreditam outros. Lembrei que tem alguns que nem acreditam nisso de órbita porque creem que a terra não é esta bola azul no meio do universo como os querem fazer crer.

Então saindo de Deus, que é uma ideia de fé muito pessoal, passo às crenças humanas. 

"Convicção íntima; opinião que se adota com fé e convicção; certeza."

Opinião que se adota pressupõe escolha. Adoto este ponto de vista e não aquele, baseado em convicções internas. Ou as crio, baseado na minha experiência, na minha visão de mundo, do que me dá mais segurança para continuar sendo o que sou. 

 "... e quando o sol estiver a pino
evita as próprias palavras:
um autêntico Áries deve preferir não dizer
quando o dizer é confundir.
O sectarismo está cravando no teu sonho
os seus dentes de nácar,
e nem te dás conta.
Ademais, não são de nácar."

'Long time ago", Thiago de Mello já me alertava, ariana de signo que sou, a cuidar com o sectarismo. (Intolerância; comportamento de quem é intolerante, sectário; estado de quem expressa intransigência: o sectarismo de algumas doutrinas religiosas). O achar que minha crença particular, baseada no meu ponto de vista, deveria também ser a verdade absoluta para o outro. E com isso me prevenia contra a intolerância. Obrigada, poeta.

E o que tem isso a ver com Deus? Tudo a ver com o Deus que aprendi a respeitar. Longe de ter barbas brancas, olhos azuis, turbante ou expressão de suprema paz em posição de lótus, o Deus de minha infância era uma expressão de inteligência generosa. O pai do Céu como se chamava, era meio parecido com meu pai. Protetor, mas respeitoso. Tinha nos feito à sua imagem e semelhança e éramos portanto universos em potencial, tão maravilhosos quanto ele. Falíveis, é verdade, mas os erros faziam parte da nossa autonomia como seres humanos. Era tão perfeita a sua criação que nos deixou o legado da livre escolha. E com ela, a responsabilidade de assumir nossos próprios atos. Nos ensinou que amar o próximo significa fazer à eles o que queremos que façam à nós. Ou pelo menos, não fazer o que não queremos que nos seja feito. Tão simples e tão potente que a humanidade ainda não aprendeu o seu potencial significado. Cada um é responsável por si e pelo outro. Com egoísmo não chegaremos ao paraíso. Mas cada um é livre para decidir que ser feliz ou não. Sem mimimis ou sem escolher mitos de barro para que os guiem em direção a um eldorado particular. 

Bem sei que falar sobre Deus ou Deusa, ou qualquer nome que lhe derem, é assunto muito delicado. E particular. Por isso assuntos de fé devem ficar na seara íntima e jamais ser confundidos com o público. Há que se traçar uma linha bem clara de independência para que se preserve a liberdade de cada um ter a sua fé respeitada. 

Então quando se falar em um dia universal de Deus, espero que seja a isso que se referem. Um dia de reflexão sobre a liberdade, sobre a responsabilidade, sobre a criação. E em última análise sobre o nosso papel no mundo.

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