Regras - aprenda antes de quebra-las



Sempre digo que aqui em casa aprendemos a viver em uma democracia real. Muitas das decisões importantes eram votadas e a maioria vencia. Ou quem tivesse maior poder de argumentação. Mas existiam as clausulas pétreas. As que não podiam ser mudadas naquele momento. Por ene razões. Até mesmo pelo famoso "não é justo, mas é assim" ou "é assim porque eu quero e pronto". E isso fez parte do aprendizado para a vida. Que nunca pretendeu ser justa. É sobrevivência. E tem regras.


Cada sociedade e cada momento tem as suas. Homens tem algumas, mulheres tem outras. O racismo nosso de cada dia mais explicito impõe outras para algumas pessoas. Uma delas eu nunca poderia imaginar porque nunca senti, como branca e burguesa que sou. O direito de abrir a bolsa em uma loja e pegar o celular. Meu celular. Eu faço isso até para me proteger dos assaltos. Entro em estabelecimentos comerciais para abrir a bolsa com segurança. Mas aprendi que existem regras não escritas que negam este direito para muitos. Nunca mais abrirei a bolsa com a mesma desenvoltura, sem sentir uma ponta de amargura contra regras idiotas que seguem sendo seguidas em nossa sociedade que parece ter perdido a vergonha de expor suas maldades.


Existem as regras que nem deveriam existir e existem as regras de como exercer talentos. As que exigem disciplina e exercício. Foco e atenção. Formamos seres que nos tocam com sua maestria em várias áreas. Os que salvam vidas. Os que constroem casas. Para tanto afazer se necessita muito aprender.


Salvo pequeníssimas exceções que parecem nascer com um dom especial, nós, a maioria dos mortais, precisamos partir do beabá. Ir galgando etapas para então quebrar as tradições. Lembro de uma visita que fiz ao Museu Picasso em Barcelona, muitas décadas atrás. Eu conhecia o pintor já maduro, com suas obras que desconstruíam figuras e tentava fazer coisas geométricas quando pequena, achando que fazia arte. Ao percorrer os corredores por suas fases e sentir a sua evolução, tive a grande iluminação prática do que significava a frase: aprenda bem as regras. E depois as quebre.


Existe uma dualidade entre ter disciplina quase militar e seguir a vida sem questionar regra nenhuma. E o potencial criativo que surge feito um vulcão de quem domina as técnicas do bem fazer. Uns podem chegar a ser generais (outros nem tanto) e dominar artes de guerra e de matar. Outros de transformar pessoas e momentos com suas inquietações e reflexões.


Sobre quebrar regras, mesmo depois de dominá-las, é preciso atentar para as consequências. Sempre as há para toda decisão pessoal. Aí reside a maturidade e a certeza que vem de dentro. Se fizer sentido e se puder aguentar as consequências, quebre regras. Deixe a sua marca. Não importa se outros vão gostar ou não. Van Gogh morreu sem grandes admiradores, na verdade seu irmão parece que acreditava nele. Ou o amava muito. O que as vezes pode ser o mesmo.


Nesses nossos tempos de curtições e extensa exposição social, muita gente se dispõe a causar quebrando regras sem o mínimo talento para isso. São os mitos que não vão perdurar. Os que chamam a atenção pelo inusitado, pelo ridículo, pela pouca duração.


Luzes meteóricas nem sempre significam sucesso.

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