Inocentes morrem. E nós com isso...


Jovens correm por um campo e são abatidos por tiros. A câmera corre e vemos que se trata de um exercício de pontaria onde os alvos são humanos. 

Por enquanto falo de ficção. Uma série que é baseada no livro de Phillip K. Dick, chamado O Homem do Castelo Alto, ganhador do Hugo Award de melhor romance em 1962. Há quem diga que o escritor, que inspirou Blade Runner, com o seu romance Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, escrevia grande parte de suas obras sob efeito de metanfetamina.

Na série de mesmo nome do livro o pano de fundo é uma suposição: Como seria a realidade se os nazistas e o império japonês tivessem ganho a segunda grande guerra?

Um pouco mais além de um mundo alternativo, a série mostra como as pessoas se adaptam às realidades, mesmo as mais terríveis. Olhando com o filtro do tempo, custa-nos crer que multidões seguiam lideranças que hoje consideramos cruéis e sanguinárias. 

Acompanhar histórias onde pessoas de bem, chefes de família amorosos, convivem com símbolos odiosos e relevam atos bárbaros porque lhes convém à sobrevivência, faz com que reflitamos sobre as nossas próprias condutas. 

Ver uma São Francisco nipônica que alterna reverência aos antepassados e consultas ao I Ching com uma ditadura onde os americanos brancos são cidadãos de segunda classe, mexe com nossa visão de mundo. 

Uma Nova Iorque nazista onde a eugenia é norma e as pessoas de bem defendem mortes como bens necessários à grandeza da nação, nos aproxima de uma realidade que não é tão distante.

Li o livro também. Diferente da série. Cada um interessante à sua maneira. Impactante no geral. Nos mostra que não existem mocinhos e bandidos. Existe gente que sobrevive. E poucos que não se oprimem. Mas mesmo mantendo sua verdade interna, não escapam da brutalidade. Há saída?
Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente.
Os fins justificam os meios. Frase famosa atribuída à Maquiavel, sem que aparentemente ele a tenha dito. Ou talvez tenha, nas entrelinhas.

Há quem concorde.

Há quem não.


E nisso, para mim, reside a diferença fundamental nas pessoas.


Há quem nunca aceite a morte de inocentes. Há quem não aceite a morte de ninguém como justificativa do que for. 

Nem nossa paz, nem nossa prosperidade podem ser amparadas pelas perdas de outras pessoas, sob pena de virarmos barbárie.


“Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolado, todo homem é um pedaço de um continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntai: Por quem os sinos dobram; eles dobram por vós” John Donne

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