Tio Highlander faz 90
Era um 18 de julho de 1929 lá no Capivari quando avisaram às irmãs que a cigana tinha trazido um irmãozinho para a casa do Dr. Stein e sua esposa, Dora. Mais novo dos seis filhos do terceiro casamento do médico que chegou ainda criança da Alemanha, Claudio tinha ainda por parte de pai, dois irmãos, Silvio e Juca.
A pequena Helena, de quatro anos, correu para a janela para tentar ver a cigana! A primeira das histórias sobre este tio que hoje faz 90 anos.
Cresceu "lá fora". Lá Fora é como toda a família sempre chamou a região onde viveram. Era um paraíso de fartura e carinhos, com a casa gostosa, as comidas e os cuidados da Vicentina, uma espécie de babá que ajudava a criar os filhos do Doutor.
Um dia o Doutor se foi. Um pouco antes o irmão Silvio, com cerca de 20 anos, também morreu. Poucos anos depois foi a vez da Dora, uma jovem de 40 anos. A vida de delícias acabou. A família se dispersou. As irmãs mais velhas foram para longe. A Lia para o Rio. A Flávia estudando em Passo Fundo. A Maria e a Tila para casa de Tios. A Helena e o Claudio para o tio mais velho. Local de onde fugiram a cavalo de tão ruim que era. Meninos ainda.
A vida foi se fazendo como dava. A herança da vida maravilhosa e dos valores com que foram criados foi consolidando a união.
O Claúdio foi crescendo. Bonito de parecer galã de cinema!
Cheio de charme e elegante, deve ter sido um dos mais bem vestidos de Porto Alegre, com suas roupas sob medida.
Cheio de paixões deve ter deixado corações arrasados por onde andava. Não bastasse ser lindo, era cheio de lábia, divertido e educado.
Colorado desde sempre, era apaixonado pelo clube do qual é um dos mais antigos sócios fundadores. Ficou célebre uma história de que teria entrado no campo, ainda no velho estádio dos Eucaliptos, roubado a bola ao discordar de um ato do juiz e sair correndo, esquecendo o carro no estádio.
Na época da Legalidade, lá estava ele, nos porões do Palácio Piratini, junto ao jovem governador Brizola que levantava o estado e o país para que seguissem as leis e dessem posse ao vice presidente Jango, logo depois da renúncia do Jânio Quadros. Perdeu o emprego na caixa estadual por conta disso.
Lembro dele sempre muito querido! Em um Natal me deu de presente uma boneca, dessas sem cabelo. Nunca me esqueci o quanto amei. Não pela boneca em si, mas pelo carinho daquele tio solteirão se preocupar em comprar um presente para mim.
Lembro o quanto as irmãs ficaram felizes quando ele, já quarentão, nos apresentou uma jovem morena bonita como sua noiva. A Vera. A nossa tia que nunca chamei de tia, porque sempre a senti como uma irmã. Uma irmã de alma e coração.
Moraram em nossa casa em Brasília. Recém casados e já com o pequeno Cássio. O popular Chumbinho. Tão famoso que o Tio ficou conhecido pelos meios do poder como o Pai do Chumbinho. Poucas vezes vi um pai tão faceiro!
Era o tio que nos buscava nas festas. E nos levava para comer pizza depois, para desespero de minha mãe que não fora avisada da demora. E correu pela cidade atrás da filha e amigas até nos achar -e a ele - faceiros da vida, comendo e bebendo coca nas noites brasilienses!
Depois chegaram o Cris e a Karine. A família cresceu com as noras e o genro. E nos netos e netas que fazem desse tio um avô muito gabola. E completamente idolatrado pela gurizada.
Sempre elegante, de terno e gravata, anda pelos meios mais requintados com naturalidade. Lembro de uma vez o pai hospitalizado, a gente esperando a hora da visita, quando quem aparece vindo lá de dentro da CTI? O Tio! Como entrou? perguntamos. Disse que era o Dr Claudio e ia ver o Dr Paulo. Ninguém questionou. Quando saí, lá estava ele, brincando e contando piadas com os guardadores de carros.
Piadas são sempre bem vindas para ele! Não há quem não lembre de uma que ele conta. Nem quem não tenha visto ele fazer flexões até pouco tempo atrás. E quando fomos comemorar suas bodas de ouro com a Vera, este ano, quem nos surpreende entrando na festa dançando tango, com piruetas? O Tio Cláudio!
Cheval!
Vida longa e próspera, meu tio adorado Tio Highlander!
Continue fazendo negócios mirabolantes, perguntando qual é o nosso pastel, chegando atrasado nas festas, falando de disco "voadoragens", vibrando com o teu Inter, mimando a tua maravilhosa família, dizendo que daqui a pouco vai estar de calça curta de tão bom que está!
Te amamos hoje e sempre.
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