O narciso, a vaidade e o pavão
É uma manhã fria. Tudo parece normal, inclusive a cerração que fecha o tempo em uma manhã de quarta feira de inverno em Porto Alegre.
Os carros passam, as pessoas correm. A vida segue.
Uns morrem.
Outros sobrevivem.
E alguns poucos se movimentam sorrateiros em uma teia de maquinações que nem sempre se faz visível.
Os narcisistas são assim.
Estou ainda impactada pela leitura de um livro chamado Nenhum espelho reflete seu rosto que trata justamente de mostrar, em forma de romance, a atuação de uma pessoa com este tipo de transtorno.
Mas se for pensar com calma, vivemos em uma época que incensa a bajulação como forma explícita de vida. Crescemos em busca de elogios. Manipulamos fotos. Postamos ações que poderiam (e deveriam na maior parte das vezes) ficar na esfera privada. Expomos nossa privacidade e vendemos nossas preferências em troca de coraçõezinhos e seguidores.
Chegamos ao ponto de gritar incoerências para causar. E quanto mais causamos, mais comentários. Mesmo os negativos contam como audiência.
Tipo a velha máxima: falem mal, mas falem de mim.
Somos de certa forma todos também narcisos.
Pavões vaidosos.
Há os que extrapolam.
Muitos recebem o nome moderno de influenciadores digitais.
Recebem para isso. É uma das profissões mais rendosas. E apenas exige cara de pau e quase nenhum senso crítico.
Apenas ousadia e exposição.
E há os vaidosos patológicos.
Aqueles que abrem mão de conquistas mais sólidas para satisfazer suas mais mesquinhas ambições.
Pavões, misteriosos ou mentirosos, abrem suas penas que encantam por momentos e escondem suas carências absolutas de utilidade.
Pavões só servem para ser utilizados.
Primeiro como êxtase quando se expõem.
Depois como fantasia de outros com suas penas.
Eles mesmos descartados.
E aí a utilidade de reconhecer as belezas efêmeras.
As lábias que dizem o que queremos ouvir.
As bajulações aos nossos egos que queremos ser eternamente bons mocinhos, aqueles a quem pais e mães vão dar abraços e chamar de minhas crianças de bem.
Narcisismo é patologia.
Vaidade é defeito.
Pavão é enfeite.
Vida real é outra coisa.
Aprender a diferenciar pode ser a diferença entre viver.
Ou morrer à míngua.
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