Das amigas que a Vida me trouxe

Brasília, 1970. Para a adolescente que chegava de Porto Alegre, aquela cidade chuvosa parecia em tudo diferente. O primeiro apartamento em uma quadra cheia de barro, fez minha mãe chorar de saudades de sua casa conhecida. Quase que nossa aventura brasiliense terminou ali. Mas não.

Logo um novo apartamento, imenso, cheio de janelas. Entrei e corri para elas, coisa que sempre faço até hoje. Preciso ver a rua, ver o universo que se esconde lá fora. Era um novo mundo. Eu tinha quase 13 anos.

Da janela de baixo uma menina fez a mesma coisa que eu. E por uma dessas forças de energia, ao mesmo tempo em que olhei para baixo, ela olhou para cima: era a Luiza.

Maria Luiza, carioca, recém chegada como eu. Um ano mais nova. A loira como seu pai a chamava. Duas covinhas sorridentes e uma alma aberta pisciana. 

Não lembro como começamos a conversar. Mas recordo como nunca mais paramos. 

Eram encontros na quadra, uma dormia na casa da outra. Trocávamos sonhos e confidências. Lembro que meus pais a adoravam. Meu pai tinha grande admiração por aquela jovem que ao mesmo tempo era tão alegre e jovial, e também tão cheia de atitude e ação.

Se fosse definir a Luiza com uma palavra seria ação. Ela fazia. Ela faz até hoje. E faz com uma graça que nada parece ser difícil, embora a gente nem sempre consiga dimensionar o custo que isso acarreta para ela. Parece fácil olhando de fora. Parece que ela nasceu para isso. Mas na verdade ela faz porque tem que ser feito, sem dramas, sem cobranças.

Minha mãe não fez por menos. Trouxe meu irmão porque viu nela uma capacidade infinda de amar como seu próprio marido lhe definiu anos mais tarde.

Cada momento de convivência consolidou aquela energia que nos ligou desde aquele primeiro olhar. Fui um elo de ligação para que eles se encontrassem com mais facilidade e consolidassem uma união que gerou além do amor e companheirismo, uma linda família.

Nem tudo foi fácil. Houve perdas duras, um preço alto a pagar que Luiza encarou com altivez e com alma guerreira. Nem sempre pude estar ao seu lado como gostaria e achava que devia. 

Houve também imensos momentos de alegria, puro amor e vitória. Tantos que abastecem sua alma, com certeza.

Minha amiga guerreira necessita muito de mim nesse momento. Necessita de nós todos que a amamos. Que cada centelha de sua generosidade consiga passar de nós para ela como força de vida e esperança.

Tua garra e capacidade de crer é uma das coisas mais admiráveis que já vi em uma pessoa. Tenho um imenso orgulho de te conhecer, de ser tua amiga. 

Não somos mais duas garotas adolescentes. Muitos de nossos sonhos se realizaram. Outros não. A vida se faz e tuas sementes maravilhosas geraram outras sementes que fazem o eterno milagre de renovação. 

Sei que tu é necessária. Nós todos te precisamos. E estamos aqui de mãos, mentes, coração vibrando por ti e para o que precisares de nós.

Tua rede de amor nos captou e nos fez também pessoas mais inteiras.

Obrigada, minha amiga, minha cunhada predileta, minha irmã de coração. Tu é dos presentes mais maravilhosos que a vida me trouxe.  

   

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

amantes eternos (divagações com a IA)

Dos meus pertences

Das podas necessárias