A luz ao lado do buraco

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A vida continua

Ontem foi um daqueles dias mágicos onde o pessimismo cedeu passagem a um novo folêgo de vida. (Embora o corretor teime em me dizer que folego perdeu o acento, eu teimo em achar que folêgo acentuado é mais dramático e me reservo ao direito de usar o chapeuzinho).

A gente, eu especialmente que sou esponjinha de tão empática, acaba se desgastando mais do que devia ao conviver e ler tanta sandice pela vida. De tanto abrir mão dos sonhos e vivências para ser útil e querida, o turbilhão nos arrasta para aquele buraco negro que fotografaram ontem com tanta emoção. Sei que foi uma mulher quem fez a foto, e não poderia ser diferente, que mulher é foda e sempre descobre um jeito de comprovar o que só se sabia por teoria. E ao lado do buraco, tem luz.

Tem luz ao redor do buraco.

Tudo bem que o buraco está tragando a luz e levando para o esgoto ou para a liberdade do mar, mesmo que poluído. Vá lá se saber o que esperar além da tragédia.

Me lembrei daqueles bichos que a gente observa a agonia, se debatendo para não cair no ralo. E muitas vezes, eu, cidadã de bem, não apenas fiquei omissa, como ajudei a que desse o mergulho. Com um sorriso sádico.

Me penitencio por isso. Não com a culpa dos moralistas, mas com a consciência de que a Vida é maior do que minhas inquietações e meus desesperos.

A luz ao lado do buraco.

Deixa que me banhe dela, deixa que me apegue nela, nem que seja por um segundo fugidio, desses que dizem acontecer com os que morrem, que enxergam luzes e coisas bonitas, como que acenando para um novo renascimento ou uma volta à casa.

Mas, vá lá se saber. Eu vi essa luz ao redor de meu pai quando me despedi dele. Eu que não sou crente. Eu que apenas tenho uma mente racional. Eu que acredito na física e na energia, eu vi e senti a luz.

No fundo de minha alma, eu quero acreditar que ela exista. E por ela, quero me apegar aos restos de luz, antes que mergulhe de vez no desconhecido.

(A forma do coração foi a água me mostrando sinais quando fui limpar uma mancha na minha calça. Vai que haja sinais do universo e esse seja uma deles...)

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