Descascando abacaxis e laranjas

Passada a folia para quem pode foliar, me peguei pensando em qual seria a minha plataforma de governo para sair de um enrosco tipo o que estamos vivendo no país. Longe de mim propor soluções econômicas ou quetais mirabolantes. Acho que minhas soluções passam mais pelo bom senso.

Tipo: temos um país com muito potencial de vida envolvido por uma grossa camada de obstáculos. Como abacaxis e laranjas.
Tá, gente que já vem com um mas ou nãos, é obvio que eu sei que a situação é mais complexa. Também tenho alguns neurônios, embora já não funcionem como dantes e sei fazer contas. Mas também nessas minhas seis décadas de vida percebi que muita teoria bonita junta pode render um bom livro, mas é de ações concretas que o mundo se faz.

E por mais que palavras e poesia abasteçam a cabeça, a fome que ronca no estômago exige algo com mais substância. Então para que fique bem claro: a vida é feita de harmonia entre o sutil e o concreto. Entre o sonhar e o agir. Entre a generosidade e o egoismo. Entre o que eu acho e o que o outro acha. 

Minha plataforma primeira: aprendizado da convivência com o estranho. 
Do latim extranĕus, estranho é algo raro ou singular. O termo, por conseguinte, é usado em contraposição àquilo que é comum, corrente ou ordinário.(fonte)
Mas o que definimos por comum? Para mim o que é comum, pode não ser para o outro. E o outro pode ser a família, o amor, a chefe, a sociedade. Na minha sociedade ideal, o respeito às diferenças é básico e seria ensinado e fomentado desde o berço.

Outro item desejável: entender o conceito de meritocracia. Em principio não sou contra a ideia de que quem se esforça mais, seja mais recompensado. Mas temos que ter regras bem especificas para várias coisas:

  • Todos vão partir do mesmo lugar. Ou seja, todas as mulheres e homens já serão bem nutridos tanto a nível fisico como espiritual para que possam gerar filhos saudáveis.
  • Todo mundo começa zerado. Ou seja, o filho do multimilionário e o guri da periferia vão começar do mesmo ponto. Não herda herança financeira. Ponto. (isto é inegociável). Senão não teremos uma verdadeira meritocracia na sociedade. (Ah, me dirão alguns, para que serve ganhar muito dinheiro se não posso deixar para meus filhos. Ah! Direi eu, para que você seja feliz até que termine a sua vida. Após o dinheiro volta ao bem comum.) Putz, acho que sou meio anarco comunista.

Já temos bom senso, respeito às diferenças e verdadeira meritocracia. Convém definirmos objetivos comuns para que possamos focar conjuntamente nas semelhanças como sociedade. Se não quiser, pode tomar o rumo dos eremitas. Tem lugar para eles na minha sociedade particular também.

O que queremos como grupo social? A quem vamos remunerar bem? Artistas, atletas, empresários, médicos, professores, garis, operários...podemos estabelecer patamares de remuneração mínimos e máximos. E isso pode ser feito de comum acordo, vejam bem que não estou advogando um estado máximo. Sou meio contra castas que mandem, sejam porque detém o poder do estado, sejam porque detém o poder do dinheiro. Nem Mies, nem Marx.


Comum acordo entre as pessoas. Seria possível comunidades onde se pudesse sentar e chegar a um consenso? Cada vez mais tenho pensado a respeito. E conversado com amigos que acreditam ser isto possível. E até acredito que sim. Mas ainda não consigo vislumbrar esse consenso em grupos maiores. Megalópoles, países, são extremamente complexos para que não exista alguma regulamentação de algo. Meus poucos neurônios ainda não acharam uma solução. Mas é obvio que existe.

E para mim as soluções passam pela inclusão. Inclusão social que a fome e a miséria são indignas e nefastas ao crescimento saudável da sociedade. Inclusão das diferenças que toda pessoa tem o direito de livre manifestação e crer no que lhe fizer feliz. Inclusão com responsabilidade. (lembram que falei de regras lá acima?)

Quem define as regras? Xis da questão. Me parece que se forem discutidas e definidas em conjunto e por consenso, sejam mais fáceis de serem assimiladas. Mas sempre com direito à questionamentos que a vida corre célere, os costumes com ela e o que ontem parecia certo, hoje pode não ser mais.

E o que tem a ver laranjas com isso? Descascar frutas pode revelar muito da sua personalidade. Tem os perfeccionistas que não deixam um mínimo de casquinhas para trás. Tem os apressados (como eu) que se machucam com as farpas. Tem os que não estão nem aí e comem tudo escondido só para não dividir com ninguém. Ou comem na frente também e ainda fazem cara de superiores com aquela indagação: quer, corta e come. Tem quem não apenas corte, como ainda arrume em pratos especiais para dividir com os demais. Tem quem só corte e nem come.
Tem os que nem nunca tem fruta.
Tem de tudo na vida.

Só uma coisa não pode: não ter solução. Se não tem faca e se quer comer laranjas, façam como meu pai: descasquem como bergamotas.

Mas para o abacaxi ainda não achei saída. Vamos pensar juntos?

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