Olhando pela janela

Quando a vida passa pela gente parece tão de repente. Ontem era criança, sem responsabilidade. Faz pouco era menina, aprendendo a ser mulher. Há instantes era uma jovem apaixonada de olhos brilhantes e coração aos saltos.

Faz tão pouco tempo e hoje tento me entender como outros olhos me veem. Quase idosa. Jeitosinha ainda, mas com marcas de uma trajetória que nem parece assim tão longa.

Desses dias que já vivi, quantos realmente me tiraram o fôlego? Quantos não deixei passar, como se fossem objetivas de uma lente que registra para postar em alguma rede social? Porque na minha vida, não sei na de vocês, o que realmente me fascina, me deixa de quatro, me esqueço de registrar. 

Da vida que vivi e vivi ainda o que posso dizer. Nem tanto o que sonhei, nem menos do que mereço. Quase 60 anos que se revelam em mim. Embora nem tão madura como seria de se esperar.

Já pensei sobre isso. Talvez o fato de não ter procriado e não ter passado pela experiência da maternidade tenham feito diferença. Sem responsabilidades da prole, a gente acaba ficando meio criançona em muitas coisas. 

Acho tão estranho olhar amigas que cresceram comigo e hoje são avós. Mas são jovens! Não importa que nos chamem de senhoras, que nos deixem usar filas prioritárias ou que nos empurrem cremes de melhor idade. Continuamos as mesmas de quando éramos adolescentes. Acho. Espero. Creio.

E a vida? Ela continua passando. Na nossa janela ela continua correndo. Com velocidade sendo dobrada a cada ano. À chegada ? Nos espera cabelos mais brancos, corpo mais frágil, exames mais cheios de cuidados. Nosso foco vai se afinando. Ao mesmo tempo que nos tornamos mais exigentes, também nos tornamos mais condescendentes conosco. Menos rígidos, mais humanos.

De nossa janela vemos a vida passar. Expectadores. Atores. Diretores. Cada um em seu papel. Cada um com o roteiro que traça e com o filme que dirige.

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