Snaps da solidão
Gente sozinha gosta de falar muito. Eu tinha uma conhecida que morava só, já com muitos anos de estrada, que mal me via despejava toda uma torrente de fatos que lhe tinham acontecido. Eu, na pureza dos anos tenros, achava meio cansativo.
Não me levem a mal. Não era má vontade de escutar. Era cansaço no ouvido. Eu tinha que fazer um exercício de meditação. Desligar o áudio, descansar o ouvido e mente para que pudesse restar um pouco de sanidade.
Mas isso foi obviamente antes da era das redes sociais e smartphones. Hoje a inundação de informações, relevantes e nem tanto, abobrinhas e mesquinharias, belezas e sensibilidades são jogadas sobre nós a uma velocidade estonteante.
Já não nos basta navegar, encontrar amigos, postar nossos sonhos, comidas e atos. Não. Queremos atenção. Queremos curtidas. Queremos ser ouvidos.
No início da era das redes sociais, era tudo tão libertário. Uma nova realidade onde todos poderiam estar conectados. Pelo menos todos os que pudesse pagar por isso. Mas não haviam tantos filtros, não havia tanta segmentação. Havia uma ideia tênue de que a humanidade estaria finalmente em sintonia de comunicação.
Mas aos poucos fomos sendo cerceados. Os jovens fogem das redes conhecidas. Se reúnem em plataformas que lhes garantam estar entre os seus. A humanidade volta a se tribalizar.
Tá bom, nunca deixou de ser uma reunião de tribos. Mas por segundos pareceu que não.
Hoje bomba o snapchat. Se eu fosse definir diria que é o BBB virtual. É um local onde se pode expor nossas vidas já que daqui a segundos (ou 24 horas) aquilo vai virar pó. #SQN
Nada vira pó na internet. Muito menos a nossa necessidade de falar da nossa solidão. Porque na verdade quem vive de verdade, não tem lá muito tempo de ficar postando o que come, onde passeia, o que faz. Fora os que ganham dinheiro com isso - e não são poucos - os outros são mais ou menos como a senhora de quem falei no início: Na falta de quem escute ou conviva, precisa ser uma cachoeira de palavras para o primeiro que a escutar. Eu inclusive.
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