Atire a primeira pedra quem nunca errou

Quase todo dia somos bombardeados por uma polêmica nova nas redes sociais. E algumas são claramente calcadas em uma total Intolerância com o pensamento alheio que, muitas vezes, nem merece uma lida ou ouvida com atenção e despida de pré conceitos. Sabem aquela velha prova de interpretação de texto que pegava muita gente no colégio? Continua pegando. Tem gente recebendo pedradas de quem não entendeu nada do que ouviu ou leu. E acha que entendeu.

E não estou falando nem em ter opinião diferente. Isto é outra coisa. É não captar mesmo o contexto. Pessoa citou algo como exemplo e pronto, é julgada e condenada como se o exemplo fosse sua prática ou tivesse a sua concordância. 

E quando as ideias não combinam, então, saí da frente, porque as pedras vão vir. A maioria sem argumentos mesmo. Vão do vômito ao xingamento, sem apelo nem habeas corpus. Aliás estes instrumentos jurídicos parecem estar ficando obsoletos em tempos mais pragmáticos como os de hoje onde os fins justificam os meios. 

Sócrates bebendo cicuta
Não que perseguição às ideias contrárias seja novidade histórica. Que o digam Sócrates e as bruxas de Salem (e de onde mais estivessem). Sem esquecer das fogueiras e cadafalsos de uma história nem tão longe assim.
Caça às bruxas
O que distingue os tempos de agora são o alcance que essa intolerância alcança. Mesmo com erros que todos cometemos. Eu já os cometi, obvio. Já fui preconceituosa, mesquinha e maldosa em algum período de minha vida (me julguem). Por sorte tive a oportunidade de refletir e aprender. E a mudar comportamentos se os achava errados. E a pedir desculpas. E de aprender a não repetir. E isto ficou entre mim e a quem eu, involuntariamente, possa ter magoado.

Hoje não. Vira estigma. Um erro vira uma marca que talvez nunca mais saia. Tipo uma queima em uma fogueira virtual onde os mais fracos e/ou sensíveis podem acabar imolados. Alguns não aguentam a pressão. E a vida segue seu baile. Sem dar chances.

Atire a primeira pedra quem nunca errou.

Sim, eu sei que a frase original tinha a palavra pecou. Mas eu tenho um senão com a palavra pecado. Acho que vem carregada de muita carga religiosa e para muitos é uma linha intransponível. 

Minha noção de pecado é um pouco diferente. É tudo aquilo que se faz intencionalmente de mal para alguém. E este mal é tudo aquilo que eu não gostaria que este alguém fizesse para mim. 

Bem subjetivo. Mas para mim funciona bem.


E agora partindo de um ponto de vista bem pragmático: de que serve dar cicuta para alguém que nos incomoda beber ou decapitar desafetos? O que nos acrescenta como pessoas? O que acrescenta à humanidade? Não é isso que fazemos quando usamos nossos dedos e mentes para julgar, condenar e aplicar a pena em alguém? Que muitas vezes nem conhecemos? Que ouvimos falar, que lemos numa rede social? Que nem sabemos se é de verdade ou mentira o que disse ou o que disseram que disse?

Fazer justiça com as nossas mãos nos dá que tipo de prazer? Não seria mais producente acharmos uma alternativa de conhecer mais a fundo, olhar o outro com um olhar mais isento? Tentar entender seu ponto de vista? (Ah! vai dizer isso para quem matou, roubou, feriu? Tá com pena, leva para casa, dirão os mais extremados). O que me sugerem é voltarmos aos tempos de Antes de Cristo? Olho por olho, dente por dente? Alguém matou meu amor, eu vou lá e mato a pessoa, ou o seu amor para que sinta o mesmo? Vai trazer meu amor de volta ou vai me transformar em um assassino como ele?

Humanidade.

Não creio que seja uma palavra sem sentido. Amor, generosidade, compreensão e empatia. Receitas simples para um mundo em convulsão. Começa dentro de cada um de nós. Pode ser trabalho de formiguinha, mas acho que vale tentar.


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