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Camadas e passos na cidade

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  É uma experiência estranha a que sinto nesta manhã de sábado andando pela Rua da Praia em Porto Alegre. Uma semana esquisita onde passo mal em uma madrugada de terror. Morar só após os 60 e muitos tem lá os seus desafios. Um dia intercalado de recuperação de forças e, enfim, um dia de socializar. Pero no mucho que continuo aquela guria/menina/mulher que concorda com a Bethania quando canta Maricotinha: Se fizer bom tempo amanhã Se fizer bom tempo amanhã Eu vou! Mas se por exemplo chover Mas se por exemplo chover Não vou!... Uma chuvinha, redinha Cotinha Aí, piorou! Nem tô! Nem vou! Nem tô! Nem vou! Saio da Casa de Cultura Mario Quintana, onde fui ver o último filme de Costa Gravas – Uma bela vida. Não sou uma cinéfila em potencial, mas gosto do desafio de mergulhar uma hora e pouco na magia de um cinema ainda vazio. O mergulho em uma história, sem barulhos nem pipoca.  Eu e a tela. Eu e a história. Um filme de vida e morte. Um falar sobre o que mais nos assusta como seres...

Os instantâneos que tiro na minha cabeça

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  Uma das minhas terapias urbanas é caminhar no sol. Moro perto de um dos maiores e melhores parques da cidade de Porto Alegre: a Redenção, também conhecida pelo nome de Parque Farroupilha nessa confusa mescla de dar mais de um nome ao mesmo espaço. Temos vários exemplos: a famosa Rua da Praia que não tem praia (a não ser em tempos de antanho e em tempos de enchentes) que é, na verdade, Rua dos Andradas. Minhas caminhadas ao sol tem mais de uma utilidade. Serve para exercitar as pernas e o corpo, um dos hábitos que devemos manter/retomar/criar como forma de ser uma velhinha mais saudável. Serve para repor um pouco da vitamina D. E serve também para desintoxicar do vício da navegação dopaminérgica dos tempos atuais. Saio sem lenço nem documento, como já cantava Caetano Veloso em tempos idos e vividos. Minto, lenço levo porque o nariz teima em pingar nestes tempos frios/quentes/úmidos de nosso inverno/primavera. Mas documentos não. E nunca celular. Um pouco por medo de assaltos. Muit...

Sendo quem se é

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  Somos uma família bastante peculiar. A gente se escreve. Além das lives diárias que unem três irmãos morando em cidades e estados diferentes, temos nossos desafios literários. O que começou com uma história de tesouro, avançou por lembranças e uma quase terapia onde a gente se revela de uma maneira muito sincera e bonita. Da live de sábado, saiu este texto que compartilho com vocês abaixo. E até por seguir o conselho da mana mais velha para que mais gente me conheça um pouco mais.     Enfim um dia de quase sol, mesmo entre nuvens. Cafezinho a postos, musica boa de fundo e reflexões sempre necessárias, principalmente em uma manhã de sábado. Então aí vamos nós. Quando vim para este mundo, abri os olhos em uma família já formada. Eram um quarteto. Eles se ensinavam uns aos outros. Como meus pais ficaram órfãos cedo, creio que construíram seus próprios modelos de pai e mãe. Se acertaram ou erraram, é coisa até sem importância porque eram seres humanos. Creio que procur...

Os ventos de setembro

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  Passar o agosto…este era um termo bem usado aqui em casa. Significava aquela resistência de passar pelas gripes e friagens e resistir até o chegar da Primavera. Ah! A primavera! Minha segunda estação predileta. Só não é a primeira justamente por causa dos ventos. Nunca gostei de ventanias. Até chuvas eu aguento com mais paciência. Mas ventos me tiram do sério. Lembro particularmente de uma primavera. 1976. Tínhamos voltado de Brasília para morar em Porto Alegre. Depois daquela ida para o Planalto Central, nós quatro de carro com mudança cruzando metade do Brasil. Depois de passar experiências incríveis de conhecer gente de todos os cantos e de então, me sentir gaúcha como nunca tinha sentido. Do bullying do primeiro dia de aula, quando a professora me pediu para ler um trecho da matéria. Ali descobri que tinha um sotaque peculiar. Da menina tímida de Porto Alegre para a garota que ia de motorista para a escola e estudava com filhos de ministros de estado, da adolescente que chego...

Manifesto pela Ética do Cuidado Intergeracional

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  “Encontrar o possível dentro do impossível”  Sonho Manifesto – Sidarta Ribeiro Leio um novo manifesto utopista, como já li tantos outros em minha vida. Vibro igualmente com eles, relembrando que não estamos sós em sonhar tempos de união e generosidade. Sempre entendi o ato de amar (que é uma bússola como define o mesmo livro) extremamente revolucionário. Tanto que as pessoas que advogam sua implantação entre os seres, acabam mortas de forma violenta. O ódio não tolera o amor porque este lhe é superior, já dizia a música Língua em outro sentido "E sei que a poesia está para a prosa Assim como o amor está para a amizade E quem há de negar que esta lhe é superior?" O Cuidado Como Atitude Revolucionária "O que se opõe ao descuido e ao descaso é o cuidado.  Cuidar é mais que um ato; é uma atitude.  Portanto, abrange mais que um momento de atenção.  Representa uma atitude de ocupação, preocupação,  de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro."...

Pirações da IA sobre um texto despretensioso

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  Todo dia acordo e sigo uma rotina muito minha. Agora tenho procurado me desintoxicar de telas e navegações curtas no celular, e estou lendo um capítulo de um romance antes de levantar. Depois café com frutas e a pedalada diária que é meu compromisso de movimento diário. Bicicleta parada que nunca aprendi a usar as que se movimentam. Coisas de infância, traumas de mãe com muitas perdas familiares e, por isso, tinha medo de perder também seus filhos. Aliás, suas filhas, porque meu irmão voava de bike pela cidade... Durante as pedaladas, costumo usar o tempo mínimo estipulado de 40 minutos para, além de apreciar a paisagem, ouvir podcasts e escrever.  Sim, escrevo pedalando. As minhas inspirações vem em momentos muito definidos do dia. Um deles, de manhã cedo, após o café e ao pedalar. Abasteço meu instagram com os mais diversos pensamentos que tenho naqueles momentos. Nunca parei para analisar o que significam. Até hoje...      O que escrevi:  07.07 marca o...

Vergonha, memória e aprendizado

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Acordo madrugadas em pleno processo de desintoxicação de navegação virtual a esmo e duas coisas me penetram a mente. Uma, a leitura de um artigo de Helena Terra, Um copo de vergonha , que descreve a vergonha como um sentimento extremamente complexo, capaz de criar silêncios que evitam o reconhecimento de atos indignos e, assim, dificultam qualquer remorso ou reparação. Esse silêncio não é apenas ausência de fala; é uma forma de distorcer a memória, de manter inertes danos que, de outra forma, poderiam ser reparados. Fico a pensar em minhas próprias vergonhas e nas dos tempos sombrios que ora vivemos, quando narrativas de luta por direitos humanos, proferidas por notórios detratores destes, chegam a causar engulhos pela distorção de atos e fatos sobejamente conhecidos, até porque vivenciados em minha história e na história de nosso país e do mundo. Sigo a saga da noite com a leitura de Nada será como antes , romance de Andreia Schefer , recém-iniciado dias atrás. É uma leitura que atra...