Os ventos de setembro
Passar o agosto…este era um termo bem usado aqui em casa. Significava aquela resistência de passar pelas gripes e friagens e resistir até o chegar da Primavera.
Ah! A primavera! Minha segunda estação predileta. Só não é a primeira justamente por causa dos ventos.
Nunca gostei de ventanias.
Até chuvas eu aguento com mais paciência. Mas ventos me tiram do sério.
Lembro particularmente de uma primavera. 1976. Tínhamos voltado de Brasília para morar em Porto Alegre.
Depois daquela ida para o Planalto Central, nós quatro de carro com mudança cruzando metade do Brasil. Depois de passar experiências incríveis de conhecer gente de todos os cantos e de então, me sentir gaúcha como nunca tinha sentido.
Do bullying do primeiro dia de aula, quando a professora me pediu para ler um trecho da matéria. Ali descobri que tinha um sotaque peculiar.
Da menina tímida de Porto Alegre para a garota que ia de motorista para a escola e estudava com filhos de ministros de estado, da adolescente que chegou com olhos de curiosidade para a pré adulta que retornou, já estudante universitária, tentando se adaptar em um mundo que antes era conhecido, mas agora era todo novo. Levei algum tempo para compreender como a mesma faculdade de arquitetura podia ter currículos tão diferentes em universidades distintas. Tive que fazer novas amizades já que as antigas tinham se dispersado. As cartas inverteram o sentido. Em Brasília era eu a remetente do DF. Agora aqui eu estava no sul do sul do país. E continuava trocando cartas. Escritas à mão e muito cheias de desenhos.
E lá estava eu, numa tarde de setembro, de calças jeans e bata de bolinhas, ainda semi gorduchinha, caminhando pela Av. Osvaldo Aranha, indo do prédio do Básico, que ficava perto do Hospital de Clínicas, para a faculdade de arquitetura, lá no comecinho da Osvaldo.
Tinha um vento que desmanchava os cabelos e as árvores começavam a florir. Meus passos no chão de terra do parque Farroupilha me fizeram lembrar de tantos momentos da infância, passados ali. Os ônibus e os carros passavam em seu ritmo um tanto mais lento que hoje. Acho que ali, depois de tantos anos, me senti de novo moradora de Porto Alegre. Talvez por isso estes momentos tenham se cristalizado na minha memória.
Dizem que o tempo não existe e que talvez, coexista. Várias vezes tenho este sentimento de estar em vários deles, no mesmo momento. Algumas vezes é um átimo. Outras pareço olhar e ver o tempo de antes. Só não consigo ver o de amanhã.
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