Para que serve o carnaval?

era dia de folia,ela sabia.
Todos saindo e rindo
Fugindo de alguma realidade, mais doída, 
menos feliz, 
quiçá apenas brincando que brincadeira
 é jeito da gente grande dizer que não cresceu de vez. 
que ainda mantém um jogo de cintura 
para dar uma banana para a Vida.
e suas agruras.

Pierrot

Não se perca de mim Não se esqueça de mim Não desapareça Que a chuva tá caindo E quando a chuva começa Eu acabo perdendo a cabeça Não saia do meu lado Segure o meu pierrot molhado E vamos embolar ladeira abaixo Acho que a chuva ajuda a gente a se ver Venha veja deixa beija seja O que Deus quiser A gente se embala se embora se embola Só pára na porta da igreja A gente se olha se beija se molha De chuva suor e cerveja (Caetano Veloso)
Em algum lugar de sua memória repousavam marchinhas. Talvez do tempo em que costumava sambar sozinha se não dava para brincar na rua. Dos clubes nunca gostou muito. Preferia a rua e os corpos suados. Amores de carnaval, desses que duram a eternidade de um instante tivera vários. Uns mais ternos, de ouvir violino em meio à folia. Outros mais ardentes de se afogar na chama que queima em quatro noites. Nunca um como Miguel Antônio.

Esse homem de olhar matreiro que foi-se chegando sorrateiro como falava a canção. Esse que brincava de coisas sérias. Esse que a viu inteira e soube dedilhar seus mistérios.

Esse que se fez fugaz. Meteoro que surge em noite estrelada. Cometa que ilumina e se vai em sua rota tracejada. Miguel Antônio.

Por ele suas rezas. Para ele suas arduras. Com ele suas canduras

Foi uma dezena de anos atrás, foi no carnaval passado, foi em um tempo de mistérios. Foi em outro universo. Sua mente de poucas palavras já nem recordava mais. Nem sabia se tinha sido real, se tinha acontecido com ela, se fora sonha, pesadelo, quimera. Outras vidas.
Carnaval - Portinari

Só sabia que fora.

Se fora.

E a cada carnaval ouvia de novo a marchinha e corria. Se achasse estava no lucro. Se se perdesse também.

Que a vida tem dessas magias. 
Cada vez que um sorriso se mergulha na face, 
um anjo desce do céu.
 Cada gota de água da chuva que liberta,
 traz uma nova esperança no amanhã. 
Cada lágrima que corre,
uma mágoa que escorre.
Cada taça de puro vinho,
Baco acena com seus mistérios.

E para que serve afinal o Carnaval, senão para respirar fundo e se reabastecer. 
Que venham as marchinhas, que venham novos Migueis, que venha a Vida.

Carnaval



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