Quando falta a paciência

Paciência. 
Eta palavrinha complicada de administrar na pratica. Como boa ariana que era, esperas e rotinas nunca foram seu forte. Gostava da novidade, das descobertas e da liberdade. Fora justamente para não perder essa maravilhosa sensação de fazer o que bem lhe aprouvesse que balisara suas escolhas de vida. Nenhum cabresto. Nenhuma amarra. Nenhum Porto.
Mas qual o que, a vida lhe trouxera prisões. 
Pensando bem, todas as âncoras foram escolhas de vida. O que nos acontece que não o é? 
No começo curtiu. Era mil cuidados. Era mil energias. Era mais que podia.
Foi cansando.
Não era só cansaço de corpo. Esse a gente tira férias e resolve. Não, era cansaço dos que sabem não ter saída. Nada ia mudar. Nunca.
Todos os dias a mesma rotina. As mesmas perguntas cujas respostas eram no início cheias de carinho. E depois de irritação. 
Todos os dias corriam sem retorno em busca de coisa nenhuma.
O relógio corria, a vida passava e ela apenas ruminava. 
Deixou de ter sonhos. Deixou de se cuidar. Deixou de viver. 
E foi ficando sem paciência.

Perdeu a vontade de reagir. A indignação morava dentro dela, mas era mais uma constatação que um impulso de mudança. Ficou velha de alma.
Nada parecia fazer diferença. Perdeu o tesão. E a paciência. 

As certezas que sempre lhe deram um motivo e um porquê foram ficando perdidas na poeira da estrada. Ficou mais pragmática. Ficou mais pneumática como diriam no maravilhos mundo novo. Não, não aprendeu a amar o Grande Irmão. Isso nunca. Apenas perdeu a paciência de brigar. Sabia que não iria adiantar. 

Era como as frases que ouvia. Sempre iguais. Tudo sempre igual. A mãe que perdia a memória. O amor que ligava na mesma hora. O sexo no mesmo dia. Nada vibrante. Nada brilhante. Tudo calmante.

A vida corria, pingava, morria. Ela cada dia mais sem vida. Por fora até não parecia. Era dentro dela que as estrelas se apagavam, uma a uma. 

Talvez alguma certeza nova fosse germinar em algum ponto de sua cabeça. Talvez. A maturidade traz sempre algum tipo de sabedoria. Dizem. Ela esperava. 

Esperar era seu destino afinal. E de algum modo era paciente nessa espera do nada. Talvez fosse enfim a lição que aprendera: deixar-se ir porque nada mais lhe atraia nessa terra. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

amantes eternos (divagações com a IA)

Das podas necessárias

Dos meus pertences