Palavras que nunca foram escritas

Acordei.

Tanto tempo dormindo, meio que anestesiada da vida, do não sentir, do não poder. Acordei.

Os olhos que já não eram tão meus correram a vida que parecia de outra pessoa e era estranho olhar no espelho e sentir que uma imagem, vagamente parecida, com a eu que eu fora, me olhava de volta com olhos também de estranheza.

Acordei. Mas o mundo não era mais meu.

As certezas tinham virado pó. Vagava em volta, tentava achar um ponto de apoio e nada. O sonho, por mais obscuro que fosse, parecia mais coerente. 

Alguém me explica em que mundo acordei e em que mundo ficaram minhas certezas? Qual a porta que tomei sem querer que me trouxe para uma outra realidade, nesse multiverso onde os pontos se tocam, mas eternamente se bifurcam. Alguém já disse isso. Li em um livro em alguma biblioteca de algum ponto do universo. Também não importa. 

Acordei aqui.

Meu lado Polyana da vida me sussurra que tenho uma nova possibilidade de construir uma versão. Mas porra, Poli, até aqui tu me persegue! Me deixa ser uma personagem diferente. Uma mais ousada, uma menos calada. Uma mais alguma coisa que não foi tentada.

Na vertigem dos dias que passam, um momento de equilíbrio (além dos sonhos que levam à mundos conhecidos/desconhecidos/) é quando as palavras se acercam. O namoro com livros ou com qualquer texto que faça um sentido por dentro. Palavras que nunca foram escritas. Uma versão que mora dentro de cada um e que um dia, talvez, alguém consiga explorar e traduzir em um conto/romance/textão/telegrama.

Até lá a busca será constante. E os olhos calmos revelarão o turbilhão que corre feito lava quente em tempo de guerra e destruição.  

Acordei. Em algum lugar dentro de mim coexiste uma percepção de que a história um dia fará sentido. Até lá as palavras vagarão feito ondas murmurantes em busca de terra firme.

Acordei. Só para avisar.  

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