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Mostrando postagens de maio, 2017

Assassinei a minha franja

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Acordei com essa fúria que acomete as mulheres (algumas) quando tudo parece meio nebuloso e o rosto do espelho não traz alívio. Coloquei de lado minhas dúvidas, me armei de uma tesoura afiada e cortei sem dó nem piedade.... Não foi a primeira vez. Além das bonecas que sofriam operações com caneta tinteiro de injeção e cortes radicais em seus cabelos que nunca mais cresciam, também fiz isso com a minha franja. Tinha cinco anos se muito. Minha mãe tentou arrumar como deu, mas a foto colorizada eternizou aquele caminho de ratos ad eternum. E nem internet tinha na época. Devia estar no DNA. Minha irmã fazia maestrias com bobs e escovas. Mas também algumas experiências inovadoras. Uma tinta meio fora de validade (na verdade não tinha isso de validade naquela época) tingiu seus cabelos de verde. No dia do baile de escolha da Miss RS 1963 , aquele que ia consagrar a moreninha Ieda Maria Vargas, que seria coroada como Miss Brasil e Miss Universo logo em seguida. E minha irmã de cabelo

Guardiã das memórias

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Acordou. Foi aos poucos.  No começo uma estranheza pequena. Uma vírgula fora do lugar. Uma frase desconexa. Uma palavra com outro significado. Mas como o mundo parecia tão igual não notou. As vírgulas se transformaram em pontos. De exclamação. Ela tentava juntar as peças. Contava com uma boa memória e com farta bibliografia, recortes de jornais, todo tipo de lixo acumulado que teimava em guardar nem bem sabia o porquê. Agora compreendia. Era a maneira de ligação.  No começo achava que era com o passado. Mas qual passado?  O que ela lembrava, e onde construiu suas certezas, tinha uma história.  Esse no qual acordou tinha outras histórias. No começo achou que eram versões e visões diferentes. Mas não podia ser tão simples. Pessoas lhe contavam de um passado que ela não vivera. E com total sinceridade. Não podiam estar inventando. Nunca.  Teve que admitir que em algures cruzara um portal e entrara em uma realidade paralela.  Era a explicação ma

Palavras que nunca foram escritas

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Acordei. Tanto tempo dormindo, meio que anestesiada da vida, do não sentir, do não poder. Acordei. Os olhos que já não eram tão meus correram a vida que parecia de outra pessoa e era estranho olhar no espelho e sentir que uma imagem, vagamente parecida, com a eu que eu fora, me olhava de volta com olhos também de estranheza. Acordei. Mas o mundo não era mais meu. As certezas tinham virado pó. Vagava em volta, tentava achar um ponto de apoio e nada. O sonho, por mais obscuro que fosse, parecia mais coerente.  Alguém me explica em que mundo acordei e em que mundo ficaram minhas certezas? Qual a porta que tomei sem querer que me trouxe para uma outra realidade, nesse multiverso onde os pontos se tocam, mas eternamente se bifurcam. Alguém já disse isso. Li em um livro em alguma biblioteca de algum ponto do universo. Também não importa.  Acordei aqui. Meu lado Polyana da vida me sussurra que tenho uma nova possibilidade de construir uma versão. Mas porra, Poli, até aqui tu