Postagens

Mostrando postagens de 2017

Procurando palavras

Imagem
Todo ano gosto de eleger uma palavra para me nortear no ano que começa. Não é como uma resolução de fim de ano, não me sinto na obrigação de segui-la ao pé da letra. Aliás isto de seguir gurus ou ideias não faz parte de minha vida. Sigo o coração. E olhe lá. Mas a palavra escolhida serve meio de norte, um rumo que parece entrar dentro de mim. Essas palavras foram aparecendo. Não precisava procurar muito, elas pareciam estar ali na esquina me esperando. Já passei pela desvirtualização , pelo desapego , pelo reciclar-me , pela renovação . Mas e agora, qual palavra escolher ? Tantas necessárias. Tanto rumo a percorrer. Tanto a me encontrar. Só sei que nada sei se torna cada vez mais constante. Parece que os anos me vão derrubando certezas e convicções.   Me vejo mais expectadora. Fui brincar de procurar e achei esta palavra em um teste da web. Fascinação. Tudo o que ando precisando sentir. Por algo, pela vida, por mim.   fas·ci·na·ção  (francês fascination,

Ítacas e o balanço das ondas do tempo

Imagem
De certa maneira somos todos Ulisses em procura do lar perdido. As reflexões da meia idade se avolumam nesta época do ano em que as ondas do tempo parecem chegar a um porto, mesmo que por poucos minutos. Chegar a um porto nos remete à velha ideia de volta à segurança. Aquela mesma que um dia tivemos no útero materno, no colo da mãe, na mão do pai que ampara. No momento em respiramos por nós, damos os primeiros passos em o auxílio alheio, partimos em uma viagem sem volta. E quando em algum momento do caminho sentimos uma angústia infinda, sentimos saudades de nossa Ítaca. Mas, não apresses a viagem nunca. Melhor muitos anos levares de jornada E fundeares na ilha velho enfim. Rico de quanto ganhaste no caminho Sem esperar riquezas que Ítaca te desse. Uma bela viagem deu-te Ítaca. Sem ela não te ponhas a caminho. Mais do que isso não lhe cumpre dar-te. Ítaca não te iludiu Se a achas pobre. Tu te tornaste sábio, um homem de experiência. E, agora, sabes

Na música me perco e me revelo

Imagem
Também fico sentimental essa época de fim de ano. (Na verdade sou sempre sentimental, agora fico mais piegas, se é que isso é possível).  Ontem mesmo chorei litros em um filme na TV. A Luz entre Oceanos. Um baita de um drama, mas o que me pegou? As sutilezas. Tudo o que não era dito explicitamente mas gritava no seu silêncio. Nasci para as sutilezas. Para o imponderável. Para o que não se revela sem um desvelo. E na mesma noite falando de músicas que marcaram a vida me dou conta que as relações são feitas de detalhes que as vezes/tantas passam desapercebidos. Assim como nos revelamos nas escolhas das pessoas que admiramos, no como tratamos quem não nos pode dar algo ou nas pequenas gentilezas do dia a dia, as letras das músicas que nos marcam falam mais de nossos sentimentos que muitas e exaustivas conversas sobre a relação . Na música me perco e me revelo. E te conheço. E me deixo conhecer. Não é a toa que existia um programa que fazia sucesso chamado as músicas que fiz

Quando falta a paciência

Imagem
Paciência.  Eta palavrinha complicada de administrar na pratica. Como boa ariana que era, esperas e rotinas nunca foram seu forte. Gostava da novidade, das descobertas e da liberdade. Fora justamente para não perder essa maravilhosa sensação de fazer o que bem lhe aprouvesse que balisara suas escolhas de vida. Nenhum cabresto. Nenhuma amarra. Nenhum Porto. Mas qual o que, a vida lhe trouxera prisões.  Pensando bem, todas as âncoras foram escolhas de vida. O que nos acontece que não o é?  No começo curtiu. Era mil cuidados. Era mil energias. Era mais que podia. Foi cansando. Não era só cansaço de corpo. Esse a gente tira férias e resolve. Não, era cansaço dos que sabem não ter saída. Nada ia mudar. Nunca. Todos os dias a mesma rotina. As mesmas perguntas cujas respostas eram no início cheias de carinho. E depois de irritação.  Todos os dias corriam sem retorno em busca de coisa nenhuma. O relógio corria, a vida passava e ela apenas ruminava.  Deixou de ter sonhos. Deixou de se cuidar.

Da chaleira que chia

Imagem
Tinha jeito não. Já tentara de todas as maneiras que conhecia. E das que imaginara. Não conseguia se comunicar. Essa coisa da convivência não era para ela. Tirou a chaleira do fogo pensando em fazer um café cheiroso desses de arder a narinas de felicidade. Café tinha dessas propriedades de fazer tudo voltar aos eixos: a cabeça e a alma. Olhou em volta procurando mentalmente a lista das tarefas do dia. Não achou como de costume em meio da bagunça que era sua mesa de trabalho. Não faz mal, pensou. Lembro que era dia de consulta no psiquiatra. Onde ia para ver se conseguia elaborar o porque não conseguia essa convivência tranquila com a vida e o que fazia na real era fingir que falava de coisas importantes para que a pessoa para quem pagava os tubos a visse como alguém normal. Era dessas. Fingia na análise. A chaleira chiava e sua mente também. Logo na segunda feira que era dia de produção vinha essa letargia da tristeza que teimava em desacalmar sua rotina. Talvez um banho re

Melancolia rima com melancia

Imagem
Melancolia rima com melancia Fruta que se delicia Sem sentir que adormecia E desde quando as rimas e as coisas têm que fazer sentido? Desde quando dá para acordar e já saber que ainda existem leilões de escravos, que gente persegue pesquisadores, que a arte virou coisa de museu e deve ser bem comportada. Que tem gente que acha que todo ser humano é tratado igual mas vocifera quando um privilégio seu é bolinado. Quando mulheres são mortas por serem mulheres. Quando o ontem parecia mais moderno e se acorda com a sensação de ter entrado em uma máquina do tempo, daqueles filmes classe B, em que tudo é pesadelo e a gente acorda num titanic (e óbvio na terceira classe) ou em uma fogueira da inquisição onde a tortura e a delação eram aceitas como forma de justiça.  Melancolia rima com agonia Talvez seja nossa apatia Que traga tanta Paralisia  Em dias de gris interno e externo, nossa letargia aumenta. Nosso desfazer se torna mais intenso. Nossa força de vontade se esvai. Melhor colocar uma más

Era dia de colheita

Imagem
Depois da chuva tormentosa, resta procurar nos céus o arco íris.  Embora otimista, restava nela uma amargura germânica, dessas que faz a natureza desconfiada. Dessas de procurar migalhas em vez de aproveitar a fartura. Dessas de metamorfosear de gris, o que pode ser luz. Agora que o tempo alcança essa tranquila (e angustiante) curva do mais para lá do que para o começo que se dava conta que nunca precisara ter sido assim. Podia ter levado a vida mais de roldão, mais de boas. Podia ter sido mais sincera de coração, podia ter sido mais leve.  Podia ter sido mais ela. Menos outros.  E como estava no tempo do já que, urgia recomeçar.  Era tempo de colheita.  Da vida ia aproveitar o que restasse. O que tinha semeado.  O olhar mais ligeiro. O amor mais faceiro. Ia gritar seus amores, suas dores. Seus desconfortos. Mas ia mesmo era amar muito. Ia rir mais que chorar. Ia relevar. Ia fazer roseiras dos espinhos. Ia saber regar cada pedacinho de terra já antecipando a sementinha que cresceria. 

Amor se ama cantando

Imagem
Era tempo de construção.  Difícil entender que o parir qualquer coisa demanda tempo. E aquele lento rolar de minutos, horas e dias que antecedem a concretização era algo que a sua alma não entendia. E se entendia, não aceitava. Mas não havia nem de onde nem por que, tinha que sentar e esperar. Até lá cantarolava. A melodia que viesse à cabeça. Às vezes acordava com uma e ela ia e vinha, meio que perene, na sua mente. Só no chuveiro se arriscava a deixar sair algum som. Desafinado.  Era tempo de construção. Desses de colocar adubo em cada gesto. Colocar ternura em cada palavra e trazer o olhar mais sincero para expor ao Outro sua delicadeza de alma e sentimentos.  Em tudo se revelava. E nesse desvelo colocava seu melhor Eu para fora. Sua atenção mais especial, suas qualidades mais bonitas. Era em tudo uma maravilha de pessoa que se deixava descortinar. E ele também devia fazer o mesmo porque homem mais fantástico nunca tinha conhecido. Adivinhava seus desejos, mesmo os

Pratos especialmente memoráveis da infância

Imagem
Retomando o projeto 52 perguntas, 52 respostas que andava adormecido.  Tenho essa mania de revirar o passado e anotar o que vou descobrindo, além de gostar de ouvir os tios e tias mais velhos. Foi assim que descobri muita coisa de minha família e atualmente estou reunindo essas informações em dois blogs para que mais pessoas possam também usufruir dessas descobertas. Lembrei especialmente deste projeto que achei na internet tempos atrás lendo para minha mãe as recordações que ela e suas irmãs escreveram sobre as suas infâncias. Se não fossem por elas muitas das coisas que sei sobre meus antepassados teriam se perdido no limbo da história. E porque acho importante preservar a memória dos que me antecederam? Uma que é uma forma de homenagem. Outra que me mostra de onde vim e quais são os valores e heranças afetivas e comportamentais que deles herdei. Algumas das recordações mais importantes de nossas vidas estão relacionadas aos sentidos. As músicas e sons que ouvimos. Os chei

Teias de descobertas

Imagem
Dia Um - a noite que termina Era de madrugada e logo a luz viria com toda a intensidade. Não importava. Tinha passado a noite em claro mesmo. Era sempre assim. Um período de intensa alegria e logo em seguida vinha a realidade pra dizer que isso não era pra ela. Essa alegria bem prosaica de compartilhar e gozar era para os outros. Para ela ficava a sensação de coisa nunca terminada. Quando se permitia a entrega e soltava sua ternura mais funda,as coisas se invertiam e fugiam da sua mão. Sempre fora assim.  Arisca,gata fugida e vadia. Gata de rua,medrosa,manhosa Acostumada a apanhar. Já não sabia nem mesmo no que acreditar. Nem nela própria. As melhores horas ainda eram os momentos vividos sem preocupação com o amanhã ,sem preocupação com o futuro. Fazer planos lhe era difícil. Não que não gostasse. Adorava sonhar e planejar como todo mundo. Mas tinha essa ferida nunca cicatrizada no coração que começava a incomodar e doer. Era uma consciência perturbadora da realidade. Era me

Urgia acontecer

Imagem
“Eu ainda faço café para dois.” (Zak Nelson) Acordou com luxos de guria nova. Resplandecia. Desejos inconfessos, desses que cabem como luva quando se tem a carne dura e os peitos altivos, cresciam nela. Por ela. Vontades escusas e tardias e por isso mesmo tão cheias da urgência de quem se descobre atrasada na vida. Suspirou três vezes. Tinha essa mania do três desde pequena. Três toques, três beijinhos na face, três trepadas sem gozar, três amantes fugidios. E agora três motivos para partir. E nenhum para ficar. Um lugar qualquer perto da Terra do Nunca, um dia de novembro de um ano perdido no tempo. Querida amiga Manoela, Acabo de acordar e lembrei de ti. De nós e nossas travessuras de adolescentes que se descobriam. Morri de vergonha de pensar nelas. Tu também? Nem sei a razão de lembrar  disso agora já que só estou escrevendo para mandar meus sentimentos pela tua perda. Antonio era um bom pai, bom marido e bom avô. Tenho a certeza de que Deus em sua infinita bondade o

Das agruras de sentir conforme a Lua

Imagem
As vezes se perguntava o que era ser mulher. Era mais que vestir rosa quando pequena ou sangrar todo mês desde criança ainda. Era mais que os não devias e os devias, limiar muito estreito que ouvia e seguia desde que se entendia por gente. Era mais que abotoar uma blusa até em cima ou desabotoar de acordo com as circunstâncias. Era sem dúvida bem mais que ser bela em alguma etapa da vida e ser disponível para ajudar em outra. Lá no fundo do seu ser se sentia mulher. Nem em outra encarnação, se existisse isso, queria voltar sem ser fêmea. Das agruras de sentir conforme a Lua, isso ela entendia. Mesmo que não tivesse parido, mesmo que não tivesse um macho para chamar de seu, ela sabia.  Que isso de nascer mulher não depende apenas de uma conjunção de combinações de óvulos e espermatozoides.  Mulher se criava nas sombrias e luminosas veredas dos universo, sob arranjo de deusas e anjas aladas que ruminavam antigas rezas para que de quando em quando, se gerasse na face

Primeiro surto, depois converso

Imagem
Acordou com o sol da meia noite. Não, não estava em um país desses de contos de fada nórdicos, seu sol real fazia o movimento normal de ir e vir nos céus com alguma variação dependendo da estação. Era dentro dela que a claridade se fazia em plena escuridão. l Uma estranheza. Apenas um quê que bateu esquisito na conversa de sempre. O dia tinha sido tão lindo que mal notou. Ou fez de conta que não notou. Ou não quis notar. Na verdade não.Tudo nela renascia e tudo nela não queria notar nada que destoasse do sol imenso que começava a brilhar por dentro. Mas....o que pipocava dentro dela. Mais que as palavras ouvidas, o tom de voz era cortante. Ou eu coisa dela? Desconfiada desde que nascera, alma fugidia dessas que se entregam com as malas atrás da porta, prontas para seguirem viagem ao primeiro senão.  Era ela. Surtava.  Mas surtava calmamente. Com classe. Com elegância.  Talvez como algumas vezes acontecia ia convergir paranoia e realidade muito tempo depois. As v

De um olhar fez-se o encontro

Imagem
Era um dia de inverno cheio de brumas. Tantas que o avião marcado às pressas demorou horas para levantar voo. Mal sabia que sua vida ia mudar em poucas horas. Por ora apenas se lamentava daquele tempo que lhe atrasava a vida. Enquanto descia as escadas da escala nem podia imaginar que um olhar a seguia. Nem quando sentou na espera interminável do destino. Sua mente divagava entre a observação de uma turma de nipônicos que faziam mil mesuras e a urgente necessidade de fazer com que a sua bagagem enfim fosse para o mesmo lugar que ela. Levantou suas pernas em meias brancas, sua saia e blusa branca. Ela toda branca não fora uma casaco cor de maravilha. Ela toda maravilhas.  Um balcão. Um olhar que a acompanhava desde a escada se faz homem. Ela desatenta nem presta atenção. Não fora o atendente mais sutil, talvez o momento não se fizesse. Uma poltrona ao lado da outra. Uma conversa como tantas outras. Um observar analítico como tantos outros. Seria nada se não fora uma fr

Palavras ao vento

Imagem
"De amar muito deixas amor em teu redor, e quem passa por perto crê que tens a rosa por dentro..." tradução livre do poema que Omara Portuondo sussurra em meus ouvidos enquanto tento me concentrar para trabalhar nessa sexta feira 13 de um chuvoso outono nesta mui leal e valorosa cidade que um dia foi um Porto Alegre. Um teste fajuto desses de redes sociais feitos com certeza para saber mais dos meus hábitos que para mim nada rendem, mas para que, unidos aos de muitos, se tornam uma das mais valiosas moedas de valor dos dias de hoje, a tal da Economia da Atenção...o tal teste me disse (na lata devo admitir) que não sou das mais tapadas, mas a procrastinação me impede de voar mais alto. Sim. E com certeza. Procrastino com consciência. Preciso desse hiato para me religar no processo criativo. Absolutamente não sou das pessoas que agem. Sou das que pensam. E o pensamento está cada dia mais obsoleto....o que me leva a admitir que sim, sou um ser em extinção. Absorvid

Homens sem noção - aborrescentes tardios

Imagem
"Criatura que não fez as bobagens na adolescência e resolve fazê-las na melhor idade..." Ouvi esta frase alguns anos atrás. Na época guardei mais como curiosidade que constatação. Mas com o rolar das páginas da vida (outra pérola que um antigo mestre de obras me brindava para falar das agruras das obras) e quanto mais cabelos brancos escondidos por tintas tenho na cabeça, mais encontro alguns espécimes peculiares de homens que fazem cantadas sem noção. E aqui uma pequena advertência, nada contra e tudo a favor de cantadas inteligentes e focadas na minha pessoa. O que acho risível e digno de pena até são os tipos que classifico abaixo: METRALHADORA GIRATÓRIA - aquele que saí atirando a esmo. Mal te conhece e já vem mandando bala. E com uma cantada que cheira a receita de bolo. E de longe já sabes que faz o mesmo com qualquer ser de saia que passe perto dele. Imagino que a sua auto estima seja tão baixa que deva espalhar sua artilharia de forma aleatória na esperança qu

Brincante das palavras

Imagem
Ando pelas ruas procurando um tal tema que me agrade e que faça as palavras saírem fáceis e faceiras. Todos parecem não fazer já muito sentido. Nada parece fazer muito sentido.  Eu já não faço sentido. Quando a vida perde seu foco de nos permitir a busca de nossas necessidades  básicas, entre elas a felicidade. ( e já parei várias vezes de escrever para t apar buracos de carência de alguém que também largou mão de seu foco para cuidar dos outros). E isso me leva a refletir que a vida não só é uma troca e só vale a pena se assim fôr(mania de tirarem os acentos diferenciais, for é muito esquisito, prefiro o errar com circunflexo. No fundo tenho alma rococó) como também nos pede respostas ao nosso próprio foco interno.  Não sei se muitos já conviveram com pessoas mais velhas, bem mais velhas, naquele período em que já estão mais lá que aqui, e mesmo as mais gentis e educadas, sempre se tornam mais imediatas. Querem o que querem JÁ. E o que querem? Atenção. O que quere