Das saudades que ficam para sempre

Tem aniversários que a gente não comemora. Partida, por exemplo. Aquelas que ninguém quer despedir. 

Pessoa que a gente ama não devia ir embora nunca. Pai e mãe deviam ser eternos. Ficariam sempre cristalizados como aqueles seres fortes, nossos heróis eternos. Nosso ponto de apoio. Nosso porto seguro.

Mas não. Se temos a sorte de tê-los junto com a gente por muitos e muitos anos, vamos passando a transição. 

Eles vão perdendo a força física. Seus cabelos vão se indo, ou vão se tornando branquinhos como a neve. Suas mentes ágeis começam a falhar. Perdem memórias. Mas nunca o amor por nós. E o nosso por eles só cresce. 

Viramos pais e mães deles. Apoiamos quem nos guiava. Talvez nem sempre com a mesma paciência. Não, nunca chegaremos a ser tão amorosos como foram conosco. 

Um dia temos que dar o adeus. Ou o até breve. Vai lá se saber. Pode ser que um dia a gente se reencontre. Mas por agora, no hoje, no aqui, fica a saudade.

Primeiro o estado de choque. A gente se imagina forte. Disse que desapegou. Disse palavras bonitas. Viu a luz que iluminou um ambiente de doença.

Descansou. Aquelas palavras que a gente se diz para se acalmar o coração.

Passa o tempo e vem o choque. A dor se transforma em raiva. A gente quer ir junto. Chora choro magoado, vira criança pequena querendo um colo que já não está lá. 

Depois fica se culpando. Do que fez, do que não fez. Por ter feito demais. Por não ter estado junto na hora mais importante.

Fica vivendo umas coisas estranhas. Sente a presença. Primeiro mais forte. depois vai ficando mais distante.

Vai vivendo como se o tempo e espaço se fundissem. Vive o passado junto com o presente. Difícil explicar, só sentindo.
 
E a saudade vai fazendo seu caminho. De dor vai virando uma coisa lá dentro.

Não que não doa. Não que a gente não chore. Mas vai virando uma presença dentro da gente. Aquela presença que sempre esteve.

Foi para isso que eles nos criaram. Para sobreviver. Para levar a vida adiante. Para sorrir e amar como eles fizeram.

Saudades Pai. Faz um ano em tempo físico que nos separamos.

Separamos? Nunca. Tu sempre vai estar aqui. Perto. Dentro. Na minha vida e no meu coração. 

 

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